terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O post obrigatório

2008 tem sido verdadeiramente cheio, intenso, inesperado. Olhando para outros anos – e assumindo o facto deste ser o mais recente, logo, o mais fresco na memória – atrevo-me a dizer que este está a ser aquele que mais mudanças tem impresso na minha vivência. Novo emprego (com tudo o que isso implica). O reencontro com alguém especial do passado (e que ainda hoje me faz estremecer). A sua música, ao piano (tanto talento). Nova morada (nos dias de semana) numa (ainda) estranha localidade. Conhecer e conviver com alguém que sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo (embora não assumido). Novas amizades (já tão essenciais). As suas crianças lindas (tão espontâneas, tão fáceis de amar). O perdão e a segunda oportunidade para alguém que danificou o lar que finalmente elegia (é passado, já passou). O concerto do David Fonseca no Coliseu (o elogio à criatividade). O reatar de velhas e boas amizades (nunca se perderam). A primeira viagem de avião (levitação). Os Açores (beleza pura). Uma amiga que partiu cedo demais (fica o seu sorriso, sempre rasgado e fácil). A (re)descoberta do Fado (Ana Moura e Deolinda). O Pois Café (ai, a preguiça). Conduzir um automóvel pela primeira vez (a autonomia que tanto anseio). O concerto da Aimee Mann (fantástica). O reforço de uma amizade há anos celebrada (tão preciosa). Os reencontros (deliciosos). Todos os meus amigos (lindos, presentes, autênticos). A minha família (sempre).

It took me nearly a year to get here. It wasn't so hard to cross that street after all, it all depends on who's waiting for you on the other side. (My Blueberry Nights)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Para ti (aviso: o teor deste post é altamente lamechas)

Agora que sabes que esta AR sou eu, apetece-me dizer à blogosfera, estratosfera, atmosfera e tudo quanto está para lá de nós…como é precioso ter-te por perto. Sempre aí. Desse lado. O primeiro bom dia (online, ok) de todos os dias. A tua adoração – e meu repúdio – pelas segundas-feiras. O meu gosto pelo preto, a tua tendência – exacerbada – pelo branco (“é muito giro” ao que eu respondo “não é nada”). Começo a achar que tens razão – aliás, sempre tiveste – e que os opostos se atraem e resultam lindamente. E, ao mesmo tempo, pergunto se seremos assim tão opostos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Da confiança

Não confiamos no vizinho do lado, sempre sorridente (deve ser cinismo), no marido que chega tarde a casa (deve ter outra), na amiga que fala demais (foi ela que contou o segredo), no filho que perdeu o dinheiro do lanche (deve ter ido comprar porcarias).

Mas, na estrada, confiamos no Outro e no cumprimento do Código. Avançamos perante o verde, entramos na rotunda porque o carro que lá vem assinala intenção de sair. Ultrapassamos. Não duvidamos que a viatura da frente não vai acelerar e desviar-se para a esquerda, dificultando a manobra.

Circulamos. Todos os dias. E nem questionamos se um qualquer louco não virá em contra-mão. Na nossa direcção.

E na vida, simplesmente já não confiamos. Nem nos actos, nem nas palavras, nem nas promessas, nem nas boas intenções. São sempre maliciosos, falsos, vazios. Pontos com nó. Ofertas com cobrança. Chamadas a pagar no destino. Publicidade enganosa.

Morremos nas estradas (mais de 700 pessoas perderam a vida este ano) e não arriscamos na vida, confiando mais.

Cada vez gosto mais de pessoas

Ontem, no mesmo autocarro, duas conversas surreais.


Intervenientes: duas caloiras da faculdade.

- Conheces a R.? A filha da professora de Sociologia?
- Não estou a ver quem é. Porquê?
- Foi atropelada. Na semana passada. Numa passadeira.
- Mas e ela, como está?
- Já está em casa. De saúde está bem…mas parece que ficou com a cara toda desfigurada.
- Mas ela era gira???
- Nãaaaaaaaaaoooooooooo. Usava aparelho. E óculos.
- Ah OK.



Intervenientes: motorista de serviço e motorista fora de expediente.

- Opah, as pessoas são muito engraçadas. Quando um gajo ‘tá a fazer tempo para o carro sair, reclamam porque não chegamos o carro para perto da paragem. Porque estão ao frio e ao relento. Mas olha, elas não nos fazem favores, a malta é que faz o favor de transportá-los. Nós fazemos favores. Um gajo às vezes abre a porta antes da hora, faz o jeito e nem um obrigado, nem um boa tarde. Então olha, que fiquem ao frio. Percebes?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Aniversários do mês

Dezembro

08 - Sopra as velas a VV, moçoila de cabelo claro e olhos azuis.

14 - Cantamos os parabéns à nossa Aninhas algures no areal de Sintra. Ou talvez não. S.Pedro, sê simpático sim?

25 - Como não poderia deixar de ser, o Menino Jesus.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Descubra as diferenças



Que eles têm algumas afinidades ideológicas, está bom de ver, mas já repararam como o Mário Nogueira e o Mao Tse Tung são fisicamente parecidos? Ao Mao só lhe faltava o bigodinho à seleccionador nacional para ser um grande líder sindical. É verdade, o Carlos Queiroz já não possui pilosidades supralabiais, mas os resultados estão à vista - seleccionador nacional tem de ter bigodaça para ter sucesso!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

We want change

Não se tem falado de quase mais nada sem ser disto, mas acho que o momento não podia passar sem referência no "tudo a posts".
Já deixei a minha opinião num comentário a um post no blog da Ana, que assino por baixo (http://nuncasempretudoounada.blogspot.com/2008/11/yes-we-can-yes-we-won.html), mas deixo aqui um texto que o António Barreto escreveu, e muito bem, no Público:

"O fardo do Presidente Obama

Foi uma extraordinária vitória. Só por isso, o dia será recordado. O novo Presidente dos Estados Unidos foi eleito num clima excepcional. Internamente, mas sobretudo internacionalmente
O mundo inteiro, ou quase, deposita nele enormes esperanças. Ilimitadas, mesmo. É talvez o Presidente americano eleito com maior expectativa favorável no mundo inteiro. Espera-se dele que resolva as questões do Iraque, do Irão, do Afeganistão e do Paquistão. Do terrorismo internacional. Do Próximo Oriente. De grande parte de África. Do comércio internacional. De defesa da Europa e do Atlântico. Das relações difíceis com a Rússia. De proliferação das armas atómicas. De controlo da degradação do ambiente. De regulação das actividades financeiras internacionais. De controlo da especulação capitalista. Do aparente declínio da América. E de problemas internos urgentes: a saúde pública, a pobreza, as relações raciais e a crise da educação.
Certo é que ele não vai resolver nem uma grande parte deste cardápio assustador. O exagero de expectativas traz sempre um excesso de desilusões. O mais provável é que, dentro de meses, estas últimas comecem a exprimir-se. Mas a verdade é que as expectativas positivas podem ter algo de uma profecia que se realiza a si própria. Por isso foi bom que Obama tenha ganho. O clima geral, nos EUA e no mundo, é favorável à sua presidência e ao seu papel. É possível que a sua simples eleição, por causa deste clima, seja um trunfo para ir resolvendo alguns daqueles problemas. A eleição do seu rival e a persistência do fantasma de Bush teriam sido desastrosas. Prosseguir o deslizamento político, moral e financeiro nos abismos para que a Administração Bush empurrou a América teria sido catastrófico.
Ser negro não lhe dá nenhuma vantagem política, intelectual ou moral. Mas o facto de o ser, pelo que significa para a sociedade americana, deu-lhe trunfos valiosos. E esse é um feito, não dele, mas dos Estados Unidos. Que outro país, da Europa, de África ou da Ásia será capaz de eleger presidente um membro de uma minoria étnica? Nesse facto reside talvez esta monumental coligação de simpatizantes através do mundo. Os que são minorias ou como tal são tratados, seja por razões religiosas, étnicas, sexuais ou nacionais, reconhecem-se facilmente nele. Muitos dos amigos da América vêem-se hoje ao lado dos europeus antiamericanos, que são multidão. Esquerda e direita, por esse mundo fora, preferem Obama. Estas coligações são pouco saudáveis. Mas permitem respirar, descomprimir e, espera-se, pensar. Assim como falar com todos. O que talvez seja a fundação de uma nova autoridade. Imprescindível por todas as razões e mais uma: a de poder contrariar o excesso de ilusões."

(Foto Jason Reed/Reuters)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Da política e das agências de comunicação

Naquele que é o primeiro dia do resto da Presidência de Barack Obama, fica a pertinente opinião de Paulo Pinto Mascarenhas sobre o papel das agências de comunicação na esfera política. É de Setembro (já era para ter sido postado) mas não perde, de todo, a actualidade.

Comunico, logo existo

Comunicação é poder. Nas nossas sociedades mediáticas, pode ser um tiro no pé acreditar que se deve dispensar qualquer um dos instrumentos existentes para comunicar uma mensagem, seja esta de que natureza for. Pouco tempo depois de ser eleita presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite (MFL) fez saber que não iria trabalhar com qualquer agência de comunicação. Com esta posição, pretendia estabelecer um padrão de diferença em relação ao seu antecessor, Luís Filipe Menezes. E, claro, a nova líder da oposição queria distanciar-se daquilo a que vulgarmente apelidamos de “políticos de plástico” – em alegada contraposição com o estilo do primeiro-ministro José Sócrates. Ela, definitivamente, não era uma”política de plástico” e, por isso, poderia dispensar o auxílio de outros meios. A sua autenticidade seria suficiente para convencer os portugueses. Esta tomada de posição de MFL constitui um duplo erro. Em primeiro lugar, nenhum político é de plástico por causa das agências de comunicação. A autenticidade é uma qualidade que se tem ou não se tem. É impossível inventá-la. As agências de comunicação não fazem milagres, nem são elas que produzem os “políticos de plástico”. Em segundo lugar, ao afastar o apoio profissional de quem sabe como transmitir a mensagem, MFL reduz drasticamente as possibilidades de sucesso. Nenhuma agência de comunicação é capaz de transformar em autêntico o que é falso, ou vice-versa, como ficou comprovado com o antecessor de MFL na liderança do PSD. Porém, nenhuma mensagem – por mais verdadeira que seja – consegue alcançar a sua meta se não atingir o público-alvo, neste caso, os eleitores portugueses. É caso para dizer, “comunico, logo existo”. As agências são apenas um dos instrumentos ao dispor no processo de transmissão de determinados conteúdos. Devem ser entendidas – e utilizadas – nessa justa medida. Já agora, MFL também deveria meditar nas vantagens da blogosfera. Como se constata facilmente (…) os blogues integram, cada vez mais, o circuito de transmissão de mensagens. Não há como ignorá-los ou procurar reduzir a sua relevância na produção de opinião e informação, apesar da forma algo displicente como – ainda – são tratados por outros meios. Até quando?


Paulo Pinto Mascarenhas
Plano B nas agências de comunicação
Jornal de Negócios
25.09.08

domingo, 2 de novembro de 2008

Orgulho de ser português


Dentro das carruagens do metro, a indicação das estações vinha toda trocada. Na Ameixoeira, dizia “Odivelas”, no Lumiar, “Senhor Roubado” e por aí fora, criando alguma confusão nos passageiros.
No Campo Grande, saiu um velho de uma das primeiras carruagens do comboio e dirigiu-se, mais ou menos furioso, ao condutor.
- Isto diz que está no Lumiar. Assim esta porcaria não serve para nada!
O jovem condutor, pouco habituado a ser incomodado na sua cabina, demorou a abrir a portinhola e não conseguia perceber a que se referia o grunhir do ancião.
Cansado de tanta incompreensão, o astuto idoso finalmente percebeu a raiz de todos os males. Virou as costas ao seu interlocutor, encolheu os ombros e concluiu para quem quis e não quis ouvi-lo:
- Tem brinquinho na orelha, o gajo!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Marco, já tinham chegado a essa conclusão

A crítica gosta de acusar os Coldplay de plágio. Pois eu aponto o dedo a quem anda a plagiar a minha banda favorita.

E o apontado é Marco Fortes. É verdade. É que o pai da Apple e do Moses já tinha dissertado sobre o papel das manhãs. E muito bem.

Descobri que a frase que celebrizou o atleta olímpico da modalidade – qual mesmo ? – saiu daqui:

Vá lá, teve a inteligência de dizer caminha e não campinha.

O meu ouvido anda numa de...

James Morrison. Songs for You, Truth For Me.

O meu sopinha de massa favorito está de volta. Não vou negar, a fórmula deste segundo álbum é a mesma de Undiscovered. Mas, por isso mesmo, é tão bom de ouvir. Recomendo Dream on Hayley, Love is Hard, Please Don’t Stop the Rain e Broken Strings.

Jason Mraz. We Sing, We Dance, We Steal Things.

O senhor que não arreda pé dos airplays nacionais, com I’m Yours, tem um álbum engraçado q.b. A favorita é, curiosamente, cantada com James Morrison. Details in The Fabric é, para mim, uma das melhores músicas que tenho ouvido nos últimos tempos. Vale por grande parte do álbum. Até desculpa a lamechas Lucky, cantada com a Colbie “irritantezinha” Caillat.

Aimee Mann. Fucking (é que nem vou colocar os caracteres que camuflam isto) Smilers.

Gosto muito da senhora. Muito mais que Magnólia (embora seja icónico, é inegável), ela canta. E bem. Depois do concerto, tornado possível de modo gratuito e deliciosamente inesperado, fiquei a gostar ainda mais. No alto dos seus (já???) 45 anos, Aimee Mann tem aqui um álbum muito coerente. 31 Today é a minha faixa de eleição. Basicamente, fala naquelas pessoas que fazem 31 anos e, qual drama qual quê, notam que tudo está…praticamente igual. Freeway, Looking for Nothing, Stranger Into Starman são fantásticas.

Adele. 19

Grande. Grande voz. Apareceu na onda das “amy wannabes” mas isso não interessa nada. A senhora canta muito bem. Recomendo Chasing Pavements, Cold Shoulder e Hometown Glory. Pensei que 19 fosse melhorzito vá, mas estas valem bem a pena.

Gabriella Cilmi. Lessons to Be Learned

Outra voz da onda das “sober amy’s”. Só que a rapariga, cujo timbre é um misto de Amy, Anastacia e Etta James, só tem 17 anos!!! Canta que se farta. Não me canso de Sweet About Me (já gostava quando era música ainda desconhecida do anúncio da Rexona, aquele do frasco com a tampa virada para baixo; é que a música diz que the world is a better place when it’s upside down), Einstein, Safer e Awkward Game.

Duffy. Rockferry

Não há duas sem três. Esta menina também vem na onda da Amy. A pequena canta tão bem. Mas diz que anda deprimida com a vida de vedeta. Problemas de adaptação à parte, o álbum está engraçadito. Mas ficou um pouco aquém das minhas expectativas. Acho que a escolha de Stepping Stone para single não foi muito feliz. Não é música com ritmo de rádio. Não tem grande ritmo. Pronto. De qualquer modo, para além da obrigatória Mercy, Warwick Avenue, Serious e Hanging on Too Long são mesmo para ouvir.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quem me deixa ouvir


Pequeno, quase embrionário, abraçado por uma escura e densa mancha. De fios. Sensível. Pressente o trovão que traz a chuva, o grito que arrasta a guerra. Um sinal que espreita. Tem um furo artificial, imperfeito, que inflama com matérias menos nobres. À esquerda (o lado do coração), arde com palavras doces e sinceras. É porta de um sentido apurado e sempre pronto. Para escutar. Tudo aquilo que anseio que me digam baixinho. Ao ouvido.

domingo, 26 de outubro de 2008

Amor Q.B.

Andy é casado há mais de dez anos. Uma vez por semana, a mulher dorme com o seu irmão. Mais novo, mais bonito, olha para Gina como uma mulher atraente (Que é. Muito). Andy tem o cabelo alourado, oleoso, penteado de modo a disfarçar as falhas de idade. E de carácter. Gina só o atrai nas férias (Gina e Hank continuam a encontrar-se todas as quintas-feiras. Andy não percebe. Gina só quer o prazer de umas horas. Hank gosta dela). Um dia Gina sai de casa. Grita a Andy que se encontra com Hank. Tem de gritar. Andy nunca se importou o suficiente para perceber.
Uns segundos depois, a voz de Gina amolece: não tem dinheiro para o táxi. Para carregar duas malas, meia vida, e um corpo de quarenta anos que alguém ainda acha bonito (E é.) Andy arrasta o seu corpo pesado, procura a carteira, tira as notas. O filme continua. Ninguém parece importar-se demasiado com a história, já gasta, de Andy, Gina e Hank (É apenas um episódio). Eu paro ali, a pensar nos limites do amor. Em Gina, que se curva mais um pouco para pedir dinheiro ao marido (Porque é que não chama um táxi e pede à mãe que o pague?). Em Andy, que estende as notas sem hesitar (Será que se importa assim tanto? Ou tão pouco?). Em Ricardo, que esperou quarenta anos por Lily, a sua menina má (Esta já é outra história). E em Lily, a chileninha que afinal não o era, e que também não era tão má quanto isso. No sonho de Ricardo – uma vida pacata em Paris – e no amor por Lily. O único. (Será possível amar alguém para sempre? Espero que não. Ou então sim. Não consigo decidir-me).
Quais são os limites do amor? E que rostos se escondem quando nos apaixonamos? Lily, a aventureira, ambiciosa (Faz-lhe falta o dinheiro que não teve em criança). Ricardo que sempre esteve ao seu lado. Com a sua vida pacata em Paris. Que nunca chegou. Andy, o menino feio, com a mulher bonita, que para ele não era assim tão bonita. Hank e a mulher do irmão, que para ele sempre foi bonita, com os seus seios pequenos. As seringas de droga de vez em quando. Os tiros. O pai de Andy e de Hank, que apaga a beleza que resta com uma almofada.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Os emplastros


Desconhecia esse anúncio, está engraçado. Não sei o que faz o Granger aí, mas, na minha opinião, ele é emplastro seja onde for.

Tenho, porém, mais dúvidas. Quem são as pessoas que assinalei com os números de 1 a 4?

Lindíssimo

Dúvida Ojencial



Nunca percebi porque aparece o Pedro Granger, à la emplastro, neste contexto. Será por aparecer, amiúde, nos comícios do PSD?

Aceitam-se teorias.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Aniverários do mês

Outubro é muito fraquinho...ou então, ando a perder as minhas capacidades e não me ocorre mais ninguém para além da Nita, no dia 11.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Da nuvem

Hoje, lembrei-me de quando olhava para as nuvens, deslumbrada, adivinhando figuras nos contornos daquele algodão dos céus. Lembrei-me que desafiava os mais velhos para verdadeiras competições. “Não vês nada ali??? Eu vejo um cavalo!” respondia muito orgulhosa. Via sempre alguma coisa. Porque queria, tremendamente, ver. Hoje, e depois de uma série de acontecimentos recentes e inesperados, apercebo-me que, tal como em menina, tenho tendência para ver e reconhecer aquilo que, forçosamente, quero ver. E acreditar. Só que, nem sempre, aquilo que parece é. O cavalo, para outros, pode ser um humano. Para outros, ainda, pode ser uma simples nuvem no céu. Só isso. Acredito que, finalmente, aprendi que todos temos diferentes dicionários. E que isso não é, necessariamente, mau. Muito pelo contrário.

Nuvem é um conjunto visível de partículas diminutas de gelo ou água em seu estado líquido ou ainda de ambos ao mesmo tempo (mistas), que se encontram em suspensão na atmosfera, após terem se condensado ou liquefeito em virtude de fenômenos atmosféricos. A nuvem pode também conter partículas de água líquida ou de gelo em maiores dimensões e partículas procedentes, por exemplo, de vapores industriais, de fumaças ou de poeiras.

As nuvens apresentam diversas formas, que variam dependendo essencialmente da natureza, dimensões, número e distribuição espacial das partículas que a constituem e das correntes de ventos atmosféricos. A forma e cor da nuvem depende da intensidade e da cor da luz que a nuvem recebe, bem como das posições relativas ocupadas pelo observador e da fonte de luz (sol, lua, raios) em relação à nuvem.

(Fonte: Wikipedia)

sábado, 27 de setembro de 2008

Não há coincidências

M., de cada vez que olha para o monitor do computador e as horas parecem reflectidas como espelhos, grita "são 11 e 11" ou "16 e 16". Por vezes, vai mais longe e chega a dizer "são 15 e 17, mas há 2 minutos atrás eram 15 e 15". M. acredita que, nesse momento exacto, algum "anjinho", como gosta de dizer, está a olhar por ela. E eu, céptica nestas lides, passei a duvidar das coincidências. Invariavelmente, quando me dá boleia depois do trabalho, passamos pelo monitor da A5 que oferece conselhos ao tráfego que passa. Os dígitos marcam 19 e 19. Nessa altura, gritamos as duas.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Na casa de Rabea

(Foto DN-Nuno Fox)


Toca a campainha. Uma esvoaçante e simpática Rabea Essenghini abre a porta para uma sala em tons laranja e odor a suave incenso. Há 22 lugares em mesas com azulejaria e louça magrebina, cadeiras e bancos forrados com a mais pitoresca tapeçaria árabe. O som convida à dança do ventre. Ao fundo, um arco ladeado por bengaleiros separa o bem-estar dos convidados da mestria da cozinha – aberta – desta anfitriã de bom gosto. Lá, vêem-se armários e uma bancada. Do lado de cá, um móvel com estantes e uma moldura. A fotografia faz adivinhar uma presença feminina. Será Rabea?

Poderíamos estar em Casablanca, não ficasse a Flor da Laranja na alfacinha Rua da Rosa, 206. Já tinha lido algumas peças sobre este restaurante marroquino. Um dos três existentes em Lisboa, todos no Bairro Alto. A Rua da Atalaia é sede do Ali-à-Papa e Pedro das Arábias, os pioneiros, por esta ordem, na arte de convidar portugueses a saborear a gastronomia deste país norte-africano.

Rabea, tal como a minha mãe, nasceu em Casablanca. Está em Portugal há 11 anos. É ela que faz as compras, cozinha e serve os sortudos que entram em sua casa. A simpatia do atendimento de Rabea torna inevitável, e imediata, a comparação com o serviço da nossa restauração. Desvantagem para nós, claro está. A ementa deste restaurante é escrita com poucos caracteres. No total, quatro, cinco pratos principais compõem a carta alterada semanalmente. Isto permite que Rabea possa confeccionar, praticamente na hora, os pratos solicitados dispensando outros intervenientes no processo. A espera é significativa mas vale muitíssimo a pena. Pressas para quê? Afinal, estamos na casa de Rabea. Ouve-se música e conversa-se, trincando uma tosta com um queijo e especiarias bastante interessantes.

O Couscous Tradicional vem servido num recipiente de barro afunilado. A sêmola de trigo aconchega um saboroso pedaço de carne, couve, cenoura, courgette e grão. Nem salgado nem insonso. No ponto. É comida para se saborear, lentamente. Nada sobra no fundo e Rabea fica manifestamente satisfeita. A dose dava para duas pessoas. Com pouca fome, é certo. Mas degustei o prato com tal satisfação que nem poderia ter sido de outra forma. A sobremesa escolhida é um Pudim de Laranja e Maracujá, ornamentado com hortelã e calda do fruto da paixão. Desenjoativo, ideal para fechar a porta do estômago, por ora, imensamente satisfeito.

Flor da Laranja é, definitivamente, um local a visitar por todos os amantes da variedade gastronómica. Prometi voltar, desta vez com a minha mãe. Para que prove um Couscous feito por alguém que não ela. Para que seja a convidada e não a anfitriã incessante. Ali mesmo. Em Casablanca. Na casa de Rabea.

Aos 24...

só me ocorre dizer obrigada :)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Ando a pensar nisto

E se, de repente, algo que rotulámos, desde sempre, como fraqueza, se revelar um ponto fortíssimo na conquista de um tentador desconhecido?

Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova (Ensaio, Toranja)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Preguiça numa noite de Verão


Quando precisamos de trabalhar, umas vezes vemos documentários sobre o acasalamento dos ursos polares (caso verídico), outras fazemos tarefas domésticas compulsivamente. Também podemos matar o tempo na blogosfera, ou entretermo-nos a descobrir a nossa própria paisagem.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Aniversários do mês

Nota: as pessoas nascidas neste mês são verdadeiramente fantásticas, não concordam?

Setembro

06 – MJF (Moçoila de Alcobaça que, durante a semana, vive ali para os lados de Roma)
13 – SPES (a minha londrina favorita que segue este blog com fervor)
17 – AR (Moi-même. Um apartamento na Bica está de bom tamanho. Entre todos, nem fica assim tão caro. Obrigada, são uns queridos!)
19 – LF (JP, esta lembrança é para nós. Pequena muito viajada que, por agora, assenta arraiais em Campo de Ourique)
23 – CA (Profissional “amadora” residente na Margem Sul. Outra lembrança direccionada a AR e JP)
28 - PA (outra querida amiga do coração. Desculpem lá, mas isto é útil e assim não me esqueço!)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Parabéns a vocês!

Vanessa Fernandes e Nélson Évora. Prata e Ouro cá da casa. Para eles, os meus parabéns! Para a Cilas também. Não ganhou medalha mas comemora, hoje, mais um aniversário.

Pergunta do dia: será que o segredo dos 17,67 metros de Nélson Évora também está numa boa pratada de Nestum com água?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Post ao lado


Finalmente ouvi o álbum dos Deolinda na íntegra. “Canção ao Lado” dá nome a um interessante conjunto de 14 faixas tão diferentes como os padrões vários dos xailes vestidos por uma Ana Bacalhau que, de crua, nada tem. Sumarenta, a voz de Deolinda consegue ser doce e ácida, limpa e suja, melódica e estridente. No fundo, versátil. Como o bacalhau.

Este álbum, nada ao lado, consegue reunir, certeiros, ironia, amores e desamores, fado e desdita sob uma guitarra portuguesa irrepreensível e um humor simplesmente fantástico. As letras musicadas por Ana Bacalhau têm tanto de “Boca do Inferno” (Agora não que é hora do almoço. Agora não que é hora do jantar. Agora não que eu acho que não posso. Amanhã vou trabalhar. “Movimento Perpétuo Associativo”), na sátira dos costumes, como de poesia contemporânea (E soubesse eu artifícios de falar sem o dizer, não iria ser tão difícil revelar-te o meu querer. Timidez ata-me a pedras e afunda-me no rio. Quanto mais o amor medra mais se afoga o desvario. E retrai-se o atrevimento a pequenas bolhas de ar. “Não sei Falar de Amor”), na ode aos mais nobres sentimentos.

Para ouvir noite dentro. Enquanto o bacalhau demolha e a "Garçonete da Casa de Fado" atende os fregueses… No Brasil, Casa de Fado não seria mole assim.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Pois Café



Pois, há anos que queria ir ao café que escolheu para nome a conjunção mais utilizada pelos portugueses. As duas simpáticas austríacas assim o entenderam e, depois de achar um piadão ao nosso querido “pois”, abriram estaminé na Rua São João da Praça, coração de Alfama. E fizeram muito bem!

Dizem que o Pois Café recria na perfeição o misticismo de Viena. Ainda não conheço Viena mas amo Lisboa e digo, muito justamente, que o Pois Café é dos locais mais agradáveis onde dei, não dois, mas muitos dedinhos de conversa. Ao sabor de um delicioso Pois Brunch (sumo natural de fruta, café, pão de várias qualidades, manteiga, doces e um prato de vários queijos, fiambre e presunto), fiz a vontade ao ócio e à preguiça do feriado e deixei-me ficar naquele sofá de veludo verde (encovado pelo tempo) durante horas iluminadas pelo candeeiro dourado a condizer com o tampo da mesa redonda.

O espaço é de uma fusão de misturas que, no fim de contas, encontram a harmonia sem qualquer hesitação. Mesas de madeira quadradas, outras corridas, sofás, poltronas, laranjas, verdes secos, veludos, latões e tecto recheado de abóbadas. A simpatia das austríacas, num atendimento familiar e delicioso, é de louvar. Perante aquela abordagem, percebemos como a maioria do serviço de restauração, em Lisboa, peca pela falta de calor humano. E calor é coisa que não falta nas paredes de pedra do Pois Café. Pessoas simpáticas, mistura de culturas e idiomas, revistas e jornais para consulta (muitos títulos; melhor: actuais) e livros. Quem quiser, leva um para casa. Contrapartida: deixa outro no seu lugar.

Enfim, um lugar de permanência obrigatória. Não é? Pois claro que é!

sábado, 16 de agosto de 2008

Put your feet on the ground


É oficial. Moçoilas deste mundo, as Melissas são as vossas novas amigas! Estou rendida a essas piquenas (vá, 39 não é assim tão pouco) que fazem as maravilhas de uma rapariga que preza tanto o conforto dos pés. Contra o cepticismo que tinha...eis que digo ao mundo que sim: as Melissas, para além de giras, são ultra confortáveis.

p.s. Melissas com boas reduções na Gardénia do Chiado.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Fado de Ana Moura


Ontem tive o privilégio de ouvir Ana Moura ao vivo no Barreiro. Sob uma lua imensa, frente ao estuário do Tejo e ao sabor do vento, ouvi, senti e emocionei-me com aquele Fado.

Simpática, simples e lindíssima, Ana Moura é dona de uma voz poderosa e de uma presença cheia e sentida.

Sobrinha e prima de fadistas, confesso que nem sempre me deixei tocar pelo Fado. Mas ontem, o Fado foi, sem dúvida, o meu destino. Amei.

Tanto que amanhã, o Fado do meu cartão de crédito será a aquisição de Guarda-me a Vida na Mão, Aconteceu e Para Além da Saudade.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Aniversários do Mês

Para que nenhum aniversário do círculo de amizades do Tudo a Posts fique esquecido, inauguro nova secção neste blog. Sob a designação original de "Aniversários do Mês", lanço este novo espaço de minha total responsabilidade. Em caso de engano nas datas ou omissão de algum aniversário que entendam pertinente, é favor deixar comentário. De nada. Eu sei que sou uma querida!

Agosto

13 - SG (não é a marca de tabaco, mas ela até fuma um cigarrito de vez em quando)
21 - Cilas (trust me, não é nenhuma cilada e até dou uma voltinha nocturna de lancha se estiver enganada)

domingo, 3 de agosto de 2008

A quem não soube dizer adeus

A ti, porque nunca soube dizer-te adeus. Porque fomos tanto, mas nunca chegámos a ser. Mais uma despedida? Não. Só uma tentativa. Que ainda não o sabe ser. Ensinas-me?



Poema da Despedida (Mia Couto)

Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"Exercício irresponsável de publicidade invertida" - Joel Neto



À RC,
Que é tudo menos tacanha, mal vestida ou ignorante.

"Egoísta, vou assistindo com um misto de honra e desconfiança à consagração internacional dos Açores como um dos últimos paraísos do planeta. Os Açores são a minha terra, o meu lugar no mundo e a minha obsessão primeira – mas por outro lado há uma parte de mim que quer conservá-los exactamente como o eram em 1992, o ano em que fiz deles sobretudo um local de regresso.
Para ser honesto, não é sem um certo pânico que assisto ao magnetismo e à curiosidade que exercem sobre aqueles que se cruzam com os seus cheiros grosseiros, os seus sons rompantes, as suas imagens bravias – e depois decidem chamar-lhe simplesmente “belos”.
No outro dia, numa repartição pública de Lisboa, uma daquelas pós-balzaquianas que lêem a “Caras” e pressionam as teclas do computador com a ponta da unha tricolor, como se receosas de que em algum momento a máquina infernal pudesse escoicear de volta, recebeu aborrecida os meus impressos, mas rasgou um sorriso assim que verificou o local de nascimento inscrito no meu BI. Foi com alívio que a ouvi, após um longo solilóquio sobre a beleza das ilhas e a beleza das gentes e a beleza da cultura, argumentar uma novela da TVI como a sua grande e única fonte de informação.
Os meus Açores hão-de ser sempre belos e tacanhos ao mesmo tempo. As minhas gentes hão-de ser sempre belas e mal vestidas em simultâneo. As minhas raparigas hão-de ser sempre belas e ignorantes por junto. E que as pós-balzaquianas dos guichés de Lisboa possam reconhecer-lhes a beleza sob um tão claro manto de tacanhez, insofisticação e ignorância só pode ser sinal de que estamos a perder qualidades. Chamem-me snob, que tanto me faz: um snob é sempre originalmente um pelintra – e é isso mesmo que eu sou, um pelintra da Terra Chã, ilha Terceira, Açores."

Joel Neto

terça-feira, 22 de julho de 2008

(In)citar II

"(...)importa que acreditemos no poder energético do optimismo - a energia mais poderosa e menos poluente do universo".

Carlos Coelho, Gingko, Abril 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

(In)citar I

(Já era para ter sido partilhado há mais tempo, mas aqui vai na mesma)

"E a fotografia do mil-folhas torna-o tão próximo que me apetece comê-la. Que querem?! O ser humano perde a cabeça quando avista aquilo que dá aos seus sentidos um destino. É por isso que, como ensinou um velho professor de Viena, a civilização é um instável edifício fundado sobre a repressão do instinto. Com as suas montras vigiadas de vidro, as pastelarias são disso um memorando melancólico e infalível”.

José Manuel dos Santos, Actual 24.05.08

sobre Fabrico Próprio – O Design de Pastelaria Semi-Industrial Portuguesa

( )

A vida de gente crescida é muito engraçada. Num dia estamos cheios de certezas, projectos com timings definidos e muita convicção na sua concretização. Estamos seguros de que queremos ir pela direita e só mais tarde pela esquerda. Sabemos que queremos assado, depois cozido. Mas não muito. Só naquele “ponto” que bem sabemos. Noutro dia, vem uma proposta daquelas fantásticas, irrecusáveis, xpto, maravilhosas. Só que vem no momento errado. Seria A proposta, O projecto, O acontecimento. Baralha tudo. A cadeia de prioridades fica às avessas e temos que tomar uma decisão. Por vezes, sem anestesia. Chegamos à conclusão de que a proposta vem cedo…ou tarde demais. E, de repente, (sinto que a minha vida está suspensa num grande parêntesis).

terça-feira, 15 de julho de 2008

O passado é inútil como um trapo

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!

Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.

Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

(Eugénio de Andrade)

domingo, 29 de junho de 2008

Educação musical

A minha irmã anda-me a educar musicalmente. Apresentou-me Arctic Monkeys, Kaiser Chiefs e Kings of Convenience com relativo sucesso, apesar do meu pouco entusiasmo.
Mas tenho de destacar uma música na qual me viciei. Oiço já há meses e nunca me farto da atmosfera absurdamente dançável e dançante, para além de uma letra fantástica que gostava de ter sido eu a escrever. O videoclip é engraçado, apesar de ter pouco a ver com a atmosfera que atribuo à música.
Chama-se "I'd rather dance with you" e não tem nada a ver com o resto do álbum dos Simon & Garfunkel, perdão, dos Kings of Convenience.
Ah, para que conste, a minha irmã tem 17 anos.

Ó gente da minha terra

Agora que a Mariza tem um novo cd (suportado numa máquina promocional como poucas tem havido em Portugal, diga-se), deixo aqui a recordação de um momento que vi ao vivo.
Sou o menos nacionalista dos portugueses, mas esta coisa ainda me arrepia de cada vez que revejo ou reoiço.

http://www.youtube.com/watch?v=TeOhPR_0x8E

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Os palhaços não faltam, estão é nos sítios errados

Um estudo económico-social de uma investigadora do ISEG e de outra do Instituto de Apoio à Criança concluiu que as crianças de Loures são as mais infelizes.
O presidente da Câmara de Loures respondeu assim:

http://www.loures.tv/gca/index.php?id=185

(Recomendo-vos que não se dêem ao trabalho de ver os outros vídeos da página, mas o de Carlos Teixeira vale muito a pena.)

Este senhor está à frente dos destinos políticos de 200 mil pessoas. Assim vai o poder autárquico em Portugal.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Porque sim


"Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências ...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece é,
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...

Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam
- ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os".

Vinicius de Moraes

domingo, 22 de junho de 2008

Anabolizante


Definição de 'anabolizante' pelo meu pai:

"Substância que nos faz ficar com um corpo parecido com o da Ana Bola."

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A barriga da gente

Um grupo de jovens de uma escola estado-unidense fez um pacto de gravidez. Ninguém sabe bem quando, onde, como nem porquê, mas o que é certo é que há 17 grávidas. Ao que parece, os pais foram escolhidos mais ou menos ao acaso e a fava até saiu a um sem-abrigo.
Fiquei completamente fascinado com esta estória. É para tentar decifrar um acontecimento destes que vale a pena ser um animal racional.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Ilha

Há poucos dias fiz a minha primeira viagem de avião. Há poucos dias conheci os Açores, apresentados pela Terceira. Ao mesmo número de dias perdi alguém de vista. Para sempre.

Estava tensa e ansiosa. Tive que gerir o facto de não ter escolhido o dia, o destino e a companhia da primeira viagem de avião. O momento que deveria ter sido programado, pensado e repensado, acompanhado de uma mão e de uns olhos familiares foi-me lançado quase de véspera. De repente, tinha ao meu lado duas pessoas que fazem dos lugares de avião a sua casa. No momento da descolagem, a música ambiente do avião era a one hit song de Shawn Mullins, Lullaby. O refrão era claro: “everything is gonna be alright, just rockabye”… E eu acreditei na letra. Tinha o Sol em cada lado, o Expresso ao colo e o Shawn Mullins no ar. De repente, estava a levitar. Já tinha imaginado vezes sem conta como iria descrever a sensação da descolagem: levitação é a minha eleita. Da janela via a minha adorada Lisboa minguando e pensava como sou pequena e indefesa. Um grão de pó no ar. E, por cima das nuvens, senti um respeito imenso por aquela máquina, asas, turbinas, motores e tripulação. Senti um respeito imenso pela morte, a mesma que, nesse dia, sem saber, levaria alguém que deveria estar a aproveitar as suas merecidas férias com sabor a mojitos à beira-mar.

A Terceira. Linda de morrer. Mais uma vez, o pensamento da morte e da vida. Inevitável numa ilha que nasceu da morte vulcânica, que parece intocada pela mão do Homem. Um paraíso no meio de um oceano. Verde do mais verde, azul do mais puro. A acelerada condução do guia incansável que nos mostrou tudo quanto possível em dois dias, por curvas e contra-curvas, subidas e descidas sinuosas, faziam-me querer conhecer mais e mais. Ali estava eu, no meio de um grupo de seres de idades e vivências tão diferentes, tão ricas. O prazer do riso, das conversas e da partilha testemunhados pelas mantas de retalhos. Três chamadas não atendidas. Uma mensagem de voz de alguém querido que está longe. Uma preocupação às três da madrugada da Terceira, quatro de Lisboa. Um pedido de devolução de chamada quando propício o momento, um timbre de voz triste, um anúncio de má notícia.

Uma noite depois, a chamada, nos poucos minutos em que me encontrei só. A notícia recebida no meio das hortênsias e do azul, sempre o azul, no horizonte dos meus olhos húmidos. Como gerir uma informação destas quando se está insulada do resto do mundo e, ao mesmo tempo, absorvida do propósito e das caras que me levaram aos Açores… Respirei fundo e pensei que só podia racionalizar a informação recebida na segunda-feira, de regresso a Lisboa e à realidade. Pelo meio, as inevitáveis lágrimas, a partilha. Sempre. Constante. A troca de confidências, de cartões de contacto, de promessas de regresso e de projectos. Flashes daquela pessoa com um sorriso lindíssimo e aberto. Os olhos. Azuis. O tapete com a bagagem que nunca mais chegava, a boleia à espera, o café nas escadas, a gargalhada. Mais dois flashes que vieram e foram. O regresso. Sacos no chão. Telefonema de parabéns à JP, o conforto da voz amiga, o não contar a notícia sobre a pessoa que não conhece. O querer adiar a constatação da realidade. A mensagem escrita de alguém que também precisa de fazer o luto. O recordar do azul profundo dos olhos curiosos que me disseram até breve na partida da ilha comum no último dia do emprego que nos apresentou.

A J. morreu numa ilha longe da Terceira. No mesmo dia que levitava no ar e pensava na vida e na morte, a J. morria numa estrada espanhola. Tinha 26 anos e só queria ir de férias para descansar do trabalho incessante e beber mojitos à beira-mar. Por mais cliché que pareça, lidar com a perda de alguém tão novo faz-me querer agarrar a vida o mais que possa. Faz-me querer dizer aos meus amigos e família o quanto gosto deles. Faz-me dizer mais disparates só por dizer e para poder rir. Faz-me querer apaixonar pelo rapaz que conheci há poucos dias. A J. só tinha 26 anos. Não é justo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

There’s nothing wrong with the blueberry pie



Why do you keep them? You should just throw them out.
No. No, I couldn't do that.
Why not?
If I threw these keys away then those doors would be closed forever and that shouldn't be up to me to decide, should it?
I guess I'm just looking for a reason.
From my observations, sometimes it's better off not knowing, and other times there's no reason to be found.
Everything has a reason.
Hmm. It's like these pies and cakes. At the end of every night, the cheesecake and the apple pie are always completely gone. The peach cobbler and the chocolate mousse cake are nearly finished... but there's always a whole blueberry pie left untouched.
So what's wrong with the blueberry pie?
There's nothing wrong with the blueberry pie. Just... people make other choices. You can't blame the blueberry pie, just... no one wants it.
Wait! I want a piece.

Nem tanto ao leite nem tanto ao vinho

"Se os portugueses sentirem que Manuela Ferreira Leite tem tanto desejo de liderar a oposição como Amy Winehouse teve de subir ao palco do Rock in Rio, então ela não irá longe. Manuela Ferreira Leite ganhou. Está de parabéns. Se ela mostrasse, já não digo um sorriso, que seria muita loucura, mas um mínimo de contentamento, a honra não lhe caía na lama e eu dormiria bastante mais descansado".

João Miguel Tavares, DN, 03.06.08

quarta-feira, 28 de maio de 2008

AR de graça ®

(Pequena nota introdutória: depois do sucesso da análise aos 10 Mandamentos de Maria Duarte Bello, instituo o AR de graça®, um apontamento de periodicidade incerta que pautará pela análise de preciosidades encontradas nos media. O conteúdo não deverá ser levado muito a sério).

A Única (a julgar pela minha recente actividade blogueira, parece que não leio mais nada. Não parece, é mesmo verdade. Para além desta, e como o nome indica, não existem mais publicações) desta semana recolheu um conjunto de frases de figuras públicas que é um verdadeiro mimo e ao qual não podia deixar de lançar a minha análise. É curioso como todas as frases se relacionam emitindo, no fundo, mensagens subliminares que incitam ao consumo de marijuana.

“Sempre usei droga para abrir minha percepção. Quando tenho uma dúvida, uso marijuana como terapia. E aí aflora, porque a resposta está dentro de mim”.
Ney Matogrosso. Cantor Brasileiro.


Ora aqui está uma frase inteligente para começar. Eu cá quando tenho dúvidas utilizo a net, faço uso do poder de interrogação junto de outrem ou folheio um dicionário. Nunca tinha visto a marijuana como uma alternativa a estes meios de aprendizagem. Vendo bem as coisas, a marijuana é natural e dispensa o consumo de energia, de voz ou papel. Grande Ney! Logo vi que o teu apelido tinha que ter conotação duvidosa. Não me arranjas um pezinho de erva do teu mato? Vá lá, tens tantos! Até aflora!

“Gosto muito que nos meus canteiros não haja ervas daninhas”.
Angela Merkel. Chanceller alemã.


Pronto, se calhar é porque nunca viu o mato do Ney. Oh Angelita, vê lá é se as ervas daninhas que andas a jogar fora não serão folhinhas de marijuana.

“Uma loira é como uma cerveja, sabe sempre melhor”.
Lara Carmo. Ex-concorrente do Big Brother.


Humm, então tu deves ser bem insonsa, tal é a autenticidade do pigmento amarelo que abunda nessa cabecinha de levedura. Mas, em caso de dúvida, meus senhores, nada como recorrer ao pezinho de marijuana para perceber se a pequena é loira ou morena.

“Sem saltos altos não consigo pensar”.
Victoria Beckam. Ser de iluminada sapiência e inigualável discernimento (vá, isto sou eu a exagerar. A revista designa-a como Ex-Spice Girl. Nem é muito diferente do que escrevi).


Eu pensava que a Victoria Beckam calçava saltos nos eventos sociais, nas lides domésticas, nos desfiles pela via pública… A julgar pelas intervenções de que é conhecida, ninguém diria que a esposa do Becks não anda a usar alturinhas nos pés. Mas lá está, o segredo da afloração de pensamento não está no salto Victoria! Está na marijuana.

“Cindy Lauper vai andar por cá muito tempo. Madonna estará fora da indústria daqui a seis meses”.
Jay Cocks no ano de 1985, então editor da Billboard.


Jay, as tuas previsões são tão exactas como a refinada ciência do oculto praticada por essa linda pomba branca de nome Linda Reis. Da Madonna lembro-me de um videoclip em que ela aparece com o cabelo tingido de várias cores. Uma maluca, essa miúda! Desapareceu num ápice. Já a Cindy, é vê-la aí num grande regabofe com o Timberlake enquanto cantarolam que só têm quatro minutos para salvar o mundo.

Quatro minutos! Já desperdiçaste três com este post.

Vai uma passa?

terça-feira, 27 de maio de 2008

MR, avô da AR

Uma das últimas edições da Única publicou uma peça sobre “seis histórias das heranças íntimas de famílias mediáticas: um Prémio Nobel (José Saramago), um militar entre o herói e o vilão (Otelo Saraiva de Carvalho), o médico que reduziu a mortalidade infantil nacional (Albino Aroso), um empresário de sucesso (Alexandre Soares dos Santos), o homem que mais leis fez em Portugal (António Almeida Santos), um Prémio Pessoa (João Bénard da Costa) e, sobretudo, os seus meninos do coração”. Com a legitimidade de uma neta desconhecida, traço neste post a história de um bon vivant (MR) que tem quatro meninos do coração.

A minha família não é mediática. O meu avô não escreve livros, não é herói militar, não trata da saúde das crianças, não tem empresas, não redige leis e não faz filmes. Do alto dos seus 75 anos, o meu avô vive a vida. Ao máximo.

“Então avô, 65 anos?”, perguntava. “Não! Que ideia! 56!”. Durante anos, a piada foi sempre esta. A 19 de Abril de todos os anos, o MR respondia o inverso da idade completada num dia, dizia, igual a todos os outros: cheio.

Não me lembro do meu avô paterno. Faleceu quando tinha pouco mais de um ano de vida. O meu avô MR foi, e é, a figura masculina ancestral da minha família. Aos domingos, ainda criança, o meu passatempo favorito era remexer nas caixas de fotografias que a minha mãe guarda no móvel da sala. As imagens levavam-me a um país que (ainda) não conheço, de areias desérticas, camelos e labirínticas medinas. Nascido em Queluz, no seio de uma família pobre, o MR cedo partiu, com os tios, para o continente africano.

Marrocos recebeu-o e lá ganhou a paixão dos motores, dos óleos e dos aceleradores dos automóveis cujo arranjo lhe deram uma vida estável. As fotos que a minha mãe guarda mostram um MR destemido que se debruçava em penhascos na zona de Fez, acelerava em motas nas ruas de Casablanca (o que lhe provocou um coma de algumas semanas) e organizava grandes almoçaradas com amigos e família. Bom vinho incluído.

Depois de Marrocos, o regresso a Portugal. Na bagagem, o ofício dos carros, uma mulher doente, dois filhos quase adultos e os poucos pertences que decidiram fazer passar na alfândega tão bem conhecida das férias de Verão rumo ao Algarve.

A minha avó materna faleceu pouco depois, sem conhecer os quatro netos. O MR fez o luto com a naturalidade de quem sabe que a vida consegue ser rude e imprevisível como a arte mecânica dos automóveis. Mulheres, lindas, novas, velhas, magras, gordas. O MR teve muitas.

Do motor passou para o volante. Durante anos, foi motorista do embaixador do Zaire. Entre uma e outra ida à papelaria da Fontes Pereira de Melo, conheceu a companheira, quase 20 anos mais nova, com quem vive há mais de 15, entre algumas zangas, dois casamentos e um divórcio. Todos os processos com a mesma pessoa. De pele muito branca e olho azul, são essas cores tranquilas que amparam o colérico MR nas suas crises de engenho tecnológico. Um dos seus hobbies é fazer experiências com leitores, TV’s e outros equipamentos que vai adquirindo através de suaves prestações no Jumbo de Alfragide.

As idas à casa do meu avô, na Reboleira, eram verdadeiros happenings. O meu avô era sinónimo de travessia do Tejo, com direito a autocarro amarelinho. Era sinónimo de sotaque francês carregado, herança da vivência cosmopolita de Casablanca, de teimosia, cantarolices, histórias surreais e uma energia imensa.

O MR tem diabetes e colesterol elevado. É hipocondríaco. Sabe o nome de todos os medicamentos e acha que tem todas as doenças. O seu maior divertimento é vencer as maleitas ou, pelo menos, contorná-las, recorrendo ao medicamento que entende tomar, ainda que contra indicação do médico de família. O MR tem um farmacêutico amigo que lhe “facilita” o acesso ao último grito da boticária.

Pela primeira vez, neste aniversário, o meu avô disse-me, manifestando algum cansaço, que fazia 75 anos e não a idade inversa. A verdade é que o MR já leva qualquer coisa como 27.375 dias de vida cheia.

Num só homem, a riqueza de muitos livros, as proezas de um herói real, o domínio da saúde, a gestão da empresa familiar e as muitas leis que insiste em desobedecer.

Que o cansaço não te vença avô.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Antestreia adiada

Adoro os inícios dos textos.
Sobretudo de escrevê-los.
Ainda hoje, quase nove da noite, numa das mais de milhentas viagens de comboio na linha de Cascais, rumo a Lisboa, num daqueles regressos a casa característicos de uma segunda-feira, achei as entradas para dois artigos que esperam ser escritos. Diz um grande amigo, H., quando os lê: “Vê-se mesmo que foste tu que os escreveste!” E eu rio-me. Dentro e fora de mim. Sabe, quem me conhece, que não gosto de ir directa ao assunto. Aliás, floreios sempre foram a minha especialidade. Contornar o assunto. Sem “nãos”. E, vejo-me agora na iminência de ter que descobrir um prelúdio convincente para o meu primeiro post. Uma gestação que leva quase nove meses, o mesmo tempo que tem este blog. Um parto difícil, diriam. Eu também. E acrescentaria: sentido.
Lembro-me das discussões que tivemos para escolher o nome desta página colectivamente pessoal. E recordo-me das dezenas de ideias que surgiram para o tema do meu primeiro post. Só que, na primeira vez que tentei escrever alguma coisa – e foi apenas no dia 15 de Março deste ano –, fui interrompida pela ventania que se fazia sentir nas muralhas do Castelo de S. Jorge, numa altura em que me tinha afluído a inspiração. E as tantas palavras que havia escrevinhado na agenda de 2007 que, por aqueles dias continuava perdida na minha mala, foram remetidas ao esquecimento. Até que, há alguns dias atrás, as encontrei. Foram directamente para o caixote do lixo. E é por isso que não gosto de manter um diário da minha vida. Das poucas vezes que o tentei, fui incapaz de reler o que havia imprimido a custo e, por vezes, com cuspo.
Numa conversa recente com a M., uma colega de trabalho, confessava-lhe a displicência que nutro pelos escritos diários. Gosto de escrever, adoro descortinar inícios, anseio pelos anos que ainda me esperam de páginas em branco à espera de serem redigidas numa qualquer revista ou jornal. Contudo, chegada a casa, apetece-me fazer tudo menos alimentar essa vontade das letras. Não há necessidade, já dizia o outro.
É difícil parir.
Mas, esta noite, enquanto lia os posts dos meus colegas, senti uma vontade incontrolável de deitar as mãos ao teclado.
Na senda do melhor início.
O meu primeiro início.
A inspiração há-de chegar…

Acho que vou esperar que saia a ferros, mesmo que deformado. Ainda não vai ser hoje.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Just the two of us

Como já disse, a Beatriz tem cinco anos. Há dias, anunciou-nos, como se fosse um dado adquirido, que vai arranjar um namorico assim que entrar para o primeiro ano.
- E para é que queres um namorado, Beatriz? – perguntámos nós.
- Para irmos os dois para a beirinha da serra. – respondeu ela, com a simplicidade de quem pensa estar a explicar o óbvio.
- Para a beirinha da serra? – surpreendemo-nos. – Fazer o quê?
A Beatriz pára, pensa durante um segundo e remata, romântica:
- Ver o mar.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O homem de smoking


A Beatriz tem cinco anos. No outro dia, enquanto jantava com os pais, em casa, apontou para a televisão e disse:
- Olha o Sócrates!
Os pais, de boca aberta, olharam um para o outro primeiro, depois para ela:
- Beatriz, tu sabes quem é o Sócrates?
E ela, impassível e segura de si, como sempre:
- Sim, é um homem que fuma.

Para ti M.

Hoje esmeraste-te.

Mantiveste-me acordada toda a noite e, como ninguém, deixaste marcas. Profundas.

Obrigada pela persistência. Sem dúvida, conseguiste o que querias: lembrei-me de ti todo o dia!

Maldito mosquito. Logo há Dum-Dum. Quero ver se fazes mais barulho e picas os 2 cm2 de pele que sobraram isentos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

À mesa com Nossa Senhora


No dia da aparição de Nossa Senhora de Fátima, o Oje consegue o milagre da aparição de Nossa Senhora Maria Duarte Bello, padroeira da etiqueta e do bem parecer, na página 14 do diário de cunho económico.

Qual Bíblia dos bons modos, o Oje publica Os 10 Mandamentos do comportamento à mesa avançados pela profissional do coaching e gestão de imagem à qual, a partir deste dia determinante, passo a prestar homenagem partilhando com todos vós as regras do saber estar entre copos e pratos.

No dia em que se pagam promessas, ofereço a minha devoção a Nossa Senhora e deixo a minha jura: irei acatar com os 10 mandamentos em toda e qualquer mesa que tiver o privilégio de sentar o meu corpinho tão bem comportado a partir de hoje.

E, agora, com os devidos comentários, os 10 Mandamentos.

1º Abolir o desejar bom apetite. É um hábito em desuso e pouco elegante.

(Mais fashion é desejar que o repasto caia muito mal e que azede a boquinha do mais doce convidado. Melhor, é nem esperar que todos estejam servidos para começar a accionar o maxilar).

2º Postura adequada. Sentado de costas bem direitas, levando o talher à boca e não a boca ao talher. Os cotovelos não devem estar apoiados na mesa enquanto come, só os pulsos. Não descalçar os sapatos debaixo da mesa.

(Espera lá, “não descalçar os sapatos debaixo da mesa”? Parece que a Nossa Senhora Maria Duarte Bello não é assim tão casta e já está a imaginar cenários de sedução assente no numerito da tipa que se descalça para descansar os delicados e atrevidos pés no “colo” do senhor elegante da frente. Minhas senhoras amigas de aventuras deste género, vamos então atacar assim mesmo, com os sapatos de biqueira afiada devidamente calçados. Na vida, há que deixar marcas).

3º Saber usar o guardanapo. Deve colocar-se sobre o colo e não enfiar na gola ou fazer dele um avental. Limpar sempre os lábios antes e depois de beber para não deixar marcas no copo. Quando se levantar da mesa coloque à esquerda do prato sem o dobrar.

(Ora aqui está algo genial…fazer do guardanapo um avental. Desconheço a técnica. Por acaso, os guardanapos de papel a que estou habituada, da marca Sou, permitem, em dimensão e resistência, fazer as coisas mais geniais. Por acaso, enquanto espero pelo prato, costumo criar vestidos de noiva, tendas de campismo, cortinados e jogos de cama. Aventais, por acaso, nunca experimentei, mas agora percebo que não é de bom tom).


4º Uso correcto dos talheres. A faca é o único talher que não é levado à boca. Os alimentos devem ser cortados e comidos um bocadinho de cada vez. A faca é dispensada quando os alimentos podem ser cortados sem dificuldade com garfo, como lasanha, ovos mexidos e saladas. Usa-se as mãos para partir pão, comer espargos, marisco e frutas de pequenas dimensões como cerejas e tâmaras.

(É bom saber que há alguém que se preocupa com a nossa saúde. Os meus pais nunca me ensinaram que as facas não se levam à boca. Toda a vida sofri de cieiro nos lábios…não é mãe? Afinal, eram as facas com que comia que me estavam a maltratar. Maria Duarte, és o meu anjo da guarda. Nunca mais levo uma faca à boca).

5º Tossir ou espirrar. O mais discreto que conseguir e nunca em direcção aos vizinhos de mesa ou respectivos pratos. Para assoar dá-se uma volta ao corpo, afastando-se ligeiramente com o mínimo de ruído sem olhar para o lenço e dobrando rapidamente. Caso necessário pedir licença para sair da mesa e voltar recomposto.

Sou uma reles pecadora. Aos teus joelhos me vergo Nossa Senhora. Uma vez, uma única vez, atenção, o acto de assoar não foi tão silencioso como gostaria. E uma outra vez, na volta da saída para uma valente assoadela, não regressei devidamente recomposta. Tinha o cabelo um pouco desalinhado do vento que se fazia sentir na rua e, pior, na ausência de lenços, tive de recorrer a um guardanapo de papel. A parte boa é que não o estava a usar como avental).


6º Evitar gestos vulgares. Não emitir ruídos ao mastigar ou engolir, não inclinar a cabeça sobre o prato. Não cheirar nem afastar a comida com o garfo para a beira do prato. Mastigar com a boca fechada e só após ter engolido se leva outro pedaço à boca. Não beber e mastigar em simultâneo.

(Pronto, este mandamento é lei para a vida. “Só após ter engolido se leva outro pedaço à boca”. Aqui está uma dica preciosa e altamente inovadora. Toda a parte dos ruídos cheira-me a algo de subliminar como “basicamente, não comam. Vivam do ar que é bem mais fashion e não engorda”. Para Nossa Senhora, alimentos como pão torrado, batatas fritas tipo pála-pála, bolachas ou massa folhada, não fazem parte da roda alimentar).

7º Conversa equilibrada. Evitar dirigir-se sempre à mesma pessoa evidenciando preferência. Equilibrar o tempo na conversa que mantém à direita e à esquerda.

(Eu sabia, o senhor engraçado que falou muito comigo num jantar em que era a única portuguesa num raio de 100 Kms, viu em mim a eleita para a vida. Logo vi que fui a preferida do senhor que tinha, ao lado direito, uma loira lindíssima que, para além de não falar uma palavra de português e inglês, não parava de comer).

8º Valorizar a qualidade e o aroma. O vinho deve ser bebido lentamente não esvaziando o copo de uma só vez. Não se ergue demasiado o copo e muito menos
inclina a cabeça para trás como fazem os passarinhos.


(Acabaram-se os penalties meus amigos. Mas, pior do que isso, acabaram-se as imitações de passarinhos. Sim, eu sei que imitava muito bem um lindo rosicolor, mas isso acabou-se. A partir de agora, beber vinho ganhou uma dimensão espiritual e espero que o respeitem).


9º Minimizar os incidentes. Não chamar a atenção para um copo ou talher sujo, cabelo
no prato ou um visitante indesejável na salada (com excepção de refeições no restaurante e mesmo assim com discrição). Se entornar vinho sobre a toalha desculpe-se, se o fizer no vizinho de mesa ofereça-se para ajudar sem insistir exageradamente.


(A partir de hoje, as minhas refeições vão pautar pela minimização de incidentes. Visitantes indesejáveis na salada passam a ser bem-vindos. Aliás, sempre defendi que fauna e flora não devem ser separados. Fica a dúvida: o que faço se entornar vinho sobre mim mesma?).

10º Para brindar. Os brindes fazem-se no final da refeição após um discurso. Levantar o cálice e beber sem bater com os copos uns nos outros ou proferir o conhecido tchim-tchim. Quem é abstémio, finge beber. Desastre total é ter um copo na mão com o dedo mínimo levantado.

(Nossa Senhora, agora é que me tramou. Então, agora só vou poder brindar no final da refeição e depois de um discurso? Pior, não posso levantar o dedo mínimo? Não sei se vou conseguir cumprir com estes mandamentos. Confesso que será mais difícil do que pensava, mas agrada-me que seja de bom tom fingir beber quando se é abstémio. Será que, num rasgo de altruísmo, posso também beber do copo do fingidor? Prometo que o farei muito discretamente).

terça-feira, 13 de maio de 2008

Prontos...

É oficial. Um elemento do meu universo laboral utiliza, amiúde, a expressão que dá nome a este post de sentido desabafo.

domingo, 11 de maio de 2008

Ou então é só porque me identifico com o Zavalita

Se “Conversa na Catedral” não é o meu livro favorito, então não sei qual é. É tudo bom: o retrato social, a imprevisibilidade, o domínio ímpar da ordem narrativa. É daqueles romances que, por tão apaixonantes, criam a ambiguidade: queremos chegar ao desfecho a todo o custo, mas também desejamos que o livro nunca chegue ao fim.

A acção é contada através de uma sucessão de analepses e prolepses. No início do livro, Santiago Zavala, o protagonista, encontra-se com o velho motorista da família, a quem não via há anos. A longa conversa entre ambos, que conta, a espaços, com a participação de um colega de trabalho de Santiago, é o eixo estrutural à volta do qual a narrativa vai crescendo.

Os diálogos são intercalados com acção e com outros diálogos. Ao todo, Mario Vargas Llosa conta cerca de 30 anos numa sucessão de analepses e prolepses, através das quais vamos percebendo, peça a peça, o sentido da intriga. À medida que tenteamos o caminho à nossa frente, arriscando desenlaces, o autor faz-nos regressar ao passado para consolidar a compreensão da estória.

E o mais fantástico é que não nos perdemos. Mario Vargas Llosa é estupendamente criterioso na forma como nos vai negando ou cedendo elementos para a compreensão da acção. Nada a mais, nada a menos. Por vezes, cruza sentimentos similares em épocas distintas, num estímulo à identificação; outras, intercala a vida de personagens díspares, evidenciando o contraste.

O resultado é uma prosa cristalina e sem escolhos. E a sensação de que não há forma mais natural de escrever.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Comunicação precisa-se!

Vivo num paradoxo imenso. Trabalho em comunicação e deparo-me, diariamente, com graves problemas de comunicação entre elementos chave do meu pequeno universo laboral. E estes problemas de comunicação, que acabam por ter consequências no ambiente de trabalho, devem-se a uma paradoxal e total ausência de…nem mais, comunicação.

A falta de diálogo entre seres humanos é algo que me provoca tremenda alergia. Já vi relações acabarem por prolongada ausência de comunicação, outras que nem começaram devido ao mesmo motivo e, agora, vejo projectos com imenso potencial acabarem assim, antes mesmo de começarem, por causa da maldita abstinência de comunicação.

Que me interessam os elevados numerus clausus anuais das licenciaturas de comunicação, os cogumélicos masters, os MBA, as pós, os doutoramentos, os mestrados, os festivais, os workshops…se depois, na prática, as pessoas simplesmente não comunicam? Que paradoxo…escrever comunicados de imprensa para, precisamente, comunicar eventos, posições, produtos, pessoas, ideias…e constatar que, a escassos metros de distância, parte do meu público-alvo mais próximo, diga-se, geograficamente próximo, é impermeável a releases de diálogo honesto e adulto.

O facto desta ausência de comunicação, e consequente fim que se avizinha, ser totalmente exterior à minha pessoa e actividade aumenta ainda mais a minha “irritação” e incompreensão perante as atitudes que tenho vindo a testemunhar.

E, assim, nesta impotência forçosamente a cumprir, assisto ao fim anunciado de projectos em que acreditava, mesmo não sendo meus, e ao afastamento eminente de uma presença que, ainda que pouco presente, lá me ia enchendo de indisfarçado contentamento. Teremos sempre a comunicação meu caro.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A pouco e pouco...



Ontem quando entrei na cozinha da minha mãe não pude deixar de esboçar um sorriso...

A Dona Gi diz que estavam boas.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Post-It



Comprar:

1 dose de paciência

1 bloco de post-its para oferecer a pessoas esquecidas

Bom senso q.b.


(Nota: serve este post de post-it. Na ausência de post-its físicos, fica aqui a dica para mim mesma. As desculpas aos leitores pelo incómodo mas isto até dá um certo jeito)

terça-feira, 29 de abril de 2008

Violet Hill

Acabei de ouvir, por acaso (vá lá, sorte), e em exclusivo mundial, a nova dos Coldplay.

"Violet Hill" é o single do muito aguardado “Viva La Vida or Death and All His Friends”.

Diz a 3 que o single está disponível para download gratuito no site dos Coldplay durante uma semana. Pior é que a página nem abre...tal é a caça à borla.

Que bom ouvir a voz do Chris Martin, em faixa inédita, depois de horas ao telefone com vozes mal humoradas num mesmo registo de amargura e má educação. Senhores! Um pouco de alegria no trabalho não fazia mal a ninguém, pois não?

terça-feira, 15 de abril de 2008

David Fonseca




Muito já se escreveu e falou sobre o concerto de David Fonseca no Coliseu. Porque muitas palavras nem sempre dizem tudo, descrevo o espectáculo como uma celebração da vida. Enérgico, dinâmico, inesperado.

“Para quê ter pressa em chegar se o que mais interessa é a viagem?”.

Obrigada pela viagem David. Ainda por cima, o bilhete foi gratuito :)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Descubra as diferenças



Mais alguém acha que o presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, é o secretário de Estado da Administração Pública, João Figueiredo, sem óculos?

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Diz a Meios & Publicidade que...

"Sindicato de Jornalistas defende que director da RTP não deve prestar contas à AR".

José, por mim estás à vontade. No hard feelings, ok?

(que bom começar o dia com um trocadilho, hein?!)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Gnarls Barkley no teremin

Descobri este vídeo já há bastantes meses mas agora lembrei-me dele e resolvi partilhá-lo. Corro o risco de passar pelo asno que não sabia o que é um teremin, mas, para mim, foi quase uma epifania. Para quem, como eu, não conhecia o primeiro instrumento electrónico, aí têm a explicação da Wikipedia.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Noite inquieta

Não dou muita importância aos sonhos que, volta e meia, vencem o sossego do meu sono. Mas esta noite acordei em pânico com um pesadelo horrível. Pela segunda vez no mesmo mês, sonhei com a morte. A minha. Da primeira vez, levou-me. Desta vez, tentou mas não conseguiu.

Abracei o dia da melhor forma que pude.

Espero dormir melhor esta noite.

quarta-feira, 26 de março de 2008

João Manuel Serra, 78 anos

Finalmente conheço o nome e a idade por trás do rosto que corporiza o olá nocturno na zona do Saldanha.

«Chamam-me o senhor do adeus, mas eu sou o senhor do olá». Começa assim a peça que a Única lançou este sábado.

No ano em que morei naquela zona, quase todas as minhas noites eram interpeladas por aquela presença quase fantasmagórica. Ali estava, a partir das 0:00 no separador central da avenida que intercepta o Saldanha.

Tudo isto é solidão?
«Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias de casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente».

Quando não o encontrava, não deixava de ficar preocupada. O que poderia ter acontecido? Teria o senhor de cabelo branco, casaco de tweed acastanhado, e óculos com armação de massa escura, faltado à sua missão? Ter-se-ia atrasado simplesmente? Teria mudado de localização? Ou desaparecido?

A presença do João, agora com nome, é inquietante. A não presença torna-se ainda mais incómoda.

«Sou preguiçoso para tudo, menos para dizer adeus a quem por aqui passa. A vida dá estranhas voltas, o meu destino é acenar a quem me cumprimenta. Estou sujeito a que me chamem maluco, mas não me importo. Da minha solidão, sei eu».

Os carros passavam. Buzinadela garantida. E ele lá dizia adeus, aliás, olá, fizesse frio ou chovesse. Pensava que caminhava para a loucura. Afinal, fugia da solidão.

Iria acenar para Marte?
«Se lá houvesse carros, pessoas com quem comunicar e essa senhora malvada, que dá pela graça de solidão».

João, agasalha-te. Esta noite faz frio.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Sweet Temptation

Altivo, destacava-se dos outros com a sua tez escura.

Descaradamente diferente, saltava à vista de quem passava. Não resisti a olhar uma e outra vez. Egoísta, tomei a iniciativa antes que qualquer outro olhar furtivo o roubasse da minha vontade. O preço a pagar não era muito elevado e, na verdade, nada tinha a perder. Precisava daquilo e sabia-o bem.

A abordagem foi directa e precisa. Nem dois minutos seriam necessários para tê-lo só para mim. Indiferente ao olhar dos outros, afastámo-nos. Ali estava ele, estático. Mesmo à minha frente. Passivo, esperava que tomasse as rédeas do momento. Nem podia ser de outra maneira.

O primeiro toque. Doce e suave. Demorado. Os níveis de serotonina aumentavam a cada nova investida. A satisfação era evidente. Nem tentei disfarçar. Ali estava eu, à frente de todos, a ceder às delícias do pecado.

Foi, sem dúvida, o melhor bolo de chocolate que comi.

terça-feira, 18 de março de 2008

Tokio Hotel fans

Isto da internet e dos blogues tem a sua piada. Podemos dizer mal dos fãs dos Tokio Hotel que um alegre alemão pica a isca no motor de busca, pensa que somos aficcionados como ele e ainda vem dizer que precisa de um intervalo para uma bica. O mundo está louco. I need a coffee break.

Tokio Hospital

Parece que anda aí uma banda de miúdos alemães a fazer estragos nos corações das adolescentes portuguesas… Tokio Hospital. Ah, não, parece que é Tokio Hotel. Sim, é isso mesmo.

No fim-de-semana passado, as fãs acamparam no exterior do Pavilhão Atlântico enquanto aguardavam a tão ansiada abertura de portas do Hotel por duas horas instalado em Lisboa.

Mas a vocalista…ou o vocalista, um ser andrógino de nome Bill, foi alvo de uma faringite. Resultado, o concerto foi adiado, para grande tristeza das raparigas. Quando vi as notícias no domingo não pude deixar de rir, com alguma malícia negra, ao ver os rostos desolados das fãs. Uma delas, entre soluços de choro descontrolado, dizia que estava triste e preocupada, não pelo adiamento do concerto, mas pelo estado de saúde do vocalista da sua banda favorita.

OK, aquilo tudo já me pareceu muito estranho. E sim, eu também fui fã, também tinha um ou outro poster colado na parede do quarto – o meu pai detestava e eu ainda colava mais um ou outro do Nick dos Backstreet Boys – mas pronto, era só isso. Ouvia as músicas, via tudo na MTV e no VIVA. Sabia os mexericos todos, comprava a Super Pop e a Bravo. Mas tudo muito saudável. Nada de choros nem de histerias. Credo!

Mas quando achava que tudo tinha visto, a reportagem da Tabu desta semana caiu-se-me como uma cerejinha no topo do bolo japonês. Deixo citação de duas fãs da banda em questão:

«A certa altura, já não suportava o meu namorado e só pensava no Tom. Ele também já não suportava ouvir-me falar do Tom. Cheguei a tratá-lo por Tom sem querer».

«Não sou capaz de namorar com ninguém porque gosto do Bill, por isso dou desprezo a todos os rapazes. O Bill é perfeito e, desde que gosto dos Tokio Hotel, não consigo pensar em mais ninguém. Enquanto tiver esta obsessão, vou estar sempre a comparar os rapazes com o Bill. As verdadeiras fãs são assim».

As verdadeiras fãs são assim?

Pronto, já descobri porque estou solteira. David Fonseca, ninguém se compara a ti!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Coffee Break

Hoje de manhã, a leitura que acompanhou o meu café foi deliciosa...

Não resisti a partilhar a opinião de Ferreira Fernandes no DN.

Para mim é sem açúcar, por favor.

«O meu homem do café é um tolo: julga servir-me café. Quando o que ele faz, todos os dias, é dar-me consulta. Por 50 cêntimos ele previne-me do mal de Parkinson, cura-me a depressão e afasta- -me os diabetes. Diz, simplório: "Aqui está a bica." E dá-me vitamina B, lípidos e aminoácidos. E, óptimo nestes tempos chuvosos, antioxidantes. Não satisfeito na generosidade, oferece- -me um pó cristalino, um dissacarídeo. Abusador, exijo sempre outro: "Docinho, docinho, porque amarga basta a vida." Esta minha frase é reveladora: eu entro no café do sr. Amílcar para me tratar. E o homem trata-me. Entro obtuso, saio eufórico (a receita põe a trabalhar as dopaminas e acorda-me). Já o dr. Pratas é uma fraude, soube agora. Receitava-me Prozac, que é só um placebo, um pacotinho de açúcar que tem vergonha da verdade. Um placebo pode enganar todo o mundo, mas não sempre. Já o sr. Amílcar, eu posso enganá-lo sempre, pagando-lhe como dono de ca-fé, quando ele é um eficaz psiquiatra.»

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Vem aí chuva

O elevador, todos os dias. Fosse a senhora gorducha do quarto andar ou o velhote do terceiro, a história era sempre a mesma. Ainda a porta não se fechara nas suas costas e começavam a debitar palavras incompreensíveis. O pior era o final: um olhar inquisitivo e a espera silenciosa por uma resposta.
“Ne rasun”, balbuciava a jovem com um encolher de ombros. E recebia o segundo olhar: desilusão, pena, um pouco de irritação, muita incompreensão. Era inevitável; apesar de Beatriz morar no prédio há seis meses, os eslovenos não conseguiam perceber que a jovem não falava a sua língua.
Nos primeiros tempos, Beatriz roía-se com curiosidade. Já depois de chegar a casa, remagicava sobre o que pretenderia dizer o vizinho. Aos poucos, porém, estes diferendos babélicos passaram a só lhe trazer saudade. Quem lhe dera discutir se os dias estão a ficar mais pequenos ou se dão frio para o fim-de-semana. Beatriz sentia a falta do alegre conforto do banal e cada vez lhe custava mais a partilha autista do elevador. O incómodo destas conversas foi sendo cada vez mais incómodo e as conversas cada vez menos conversas.
Um dia foi diferente. Beatriz e o magricela do terceiro esperavam o elevador. Os eslovenos não são mal-educados de todo; ele abriu a porta com uma mão e fez sinal com a outra para que a moça entrasse. E no mesmo segundo, os dois arregalaram os olhos.
Um enorme frigorífico, branco e um bocado ferrugento, ocupava grande parte do elevador. Esquecido não podia estar nunca houve notícia de electrodomésticos fugitivos. Beatriz e o vizinho não disseram nada. Passado o primeiro mudo pasmo, desataram a rir até cada um sair no seu andar.
O frigorífico foi uma bênção para as viagens elevatórias de Beatriz. Já não há dúvida possível, qualquer conversa que se passe no ascensor tem como assunto o grande órfão branco. Os vizinhos palram em esloveno, com muitos acenos de cabeça à mistura. Beatriz responde o que lhe apetece, em inglês ou português. Todos são felizes e já todos a entendem. Mesmo quando diz que deve vir aí chuva.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Tatuagem II

“Mas porque não tentas viver isso que sentes?!”

“Porque tenho medo”.

“Medo do quê?”

“Sei lá! Medo!”

Na idade em que tatuava os livros dos meus pais, pensava que o amor era uma coisa fácil de entender e ainda mais fácil de ser vivida. Acreditava que a fórmula era simples: uma pessoa gostava da outra, essa outra correspondia o sentimento e viviam felizes. Assim, sem tirar nem pôr. As pessoas demonstravam os sentimentos, faziam coisas juntas, diziam palavras bonitas, sorriam como parvas. Isso era o amor. Com a mesma simplicidade, cedo percebi que os meus pais não deviam sentir isso…porque não faziam nada disto, aliás, mal se falavam. E assim, apreendi que quem amava dizia e mostrava que amava. Sem reservas. Quem não amava, não se encontrava. Não se falava. Não estava.

Mas o tempo obrigou-me a ver uma realidade bem mais complexa. Embora nunca tenha compreendido muito bem, a verdade é que as pessoas podem amar e ser amadas, sem se falarem; podem amar e ser amadas sem fazerem coisas juntas; podem amar e ser amadas sem estarem; podem amar e ser amadas sem arriscarem, sem viverem.

E assim, mesmo sabendo disto, hoje não pude deixar de ficar “chocada” ao ter este diálogo com uma amiga que ama, é amada, mas tem pânico de viver o amor com medo que tudo corra mal. A mesma que “tenta” com tantos outros histórias que se desfazem mesmo antes de começarem. E perante o susto do amor recua com medo que desta vez a tatuagem seja definitiva.

Tatuagem I

Hoje acordei com fome de escrever. Não é que não sacie a fome da escrita todos os dias. Afinal, o que seria de mim se não fossem as letras com que teço documentos, comunicados, emails e tantos outros emaranhados de vogais e consoantes. Mas esta fome é como aquela que às vezes aparece depois de trancado o estômago com uma boa dose de cafeína…é uma fome de afirmação, de vício escrito, uma fome de escrita sem abreviaturas, sem ASAPs e FYIs (detesto estas siglas!). Sem pressas.

Quando pequena, era o terror da bibliotecária cá de casa: a minha mãe ficava em fanicos quando percebia o motivo da minha satisfação pré-primária. Tinha o vício de escrever o meu nome e tudo quanto me lembrasse nas páginas dos livros que ainda não entendia mas dos quais queria fazer parte, tatuando-os para todo o sempre.

E ainda hoje olho para esses livros com orgulho. Lá está a minha marca no Eça, no Castelo Branco, no autor de nome russo muito estranho que escreveu um livro de teor quase erótico que o meu pai camuflava no fundo da estante, no Garret que o meu irmão depositou na prateleira de baixo – que, pelo brio das folhas, não foi muito utilizado nas aulas de Português B que ele tanto odiava –
no Mestre Cozinheiro, a bíblia de balcão de cozinha da senhora Gi.

Tinha no lápis a minha arma letal. Canhota. Sim. “Ah, tu a escrever és tão deficiente”, gozava o Bruno da primária. “E então, a minha letra é bem mais bonita que a tua!”, dizia eu, orgulhosa, depois da Professora Olga mostrar à turma as páginas do meu caderno já repletas de letras redondas e atinadas.

No entanto, tenho com a escrita uma relação muito estranha e às vezes sou vencida pela preguiça, pela passividade…e não escrevo. Sei que não podia viver da escrita, não tenho competências nem inspiração suficiente para ser fazedora de histórias. Mas quando sinto fome de escrita, sou impelida a ir ao seu encontro, quase que mecanicamente guiada pelas minhas mãos. E então sou feliz. Porque me deixo ir, porque não sei como vai acabar o texto, porque venci a preguiça e produzi mais um pequeno retalho de linhas feito. E deixo a minha marca. Como uma tatuagem.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Cinefilia


Existem, por alto, três motivos para eu gostar de ver um filme. Em primeiro lugar, ser um bom filme de autor, com originalidade, daqueles que ficamos a digerir durante horas, dias ou anos. Ou em que pelo menos nos surpreendemos, pensámos em algo novo, ganhámos alguma coisa por ver o filme. Por exemplo, os meus dois filmes portugueses favoritos: “Alice” e “Outra Margem”.
Depois, há filmes que partilham temas e estéticas que, vá-se lá saber porquê, me atraem muito. Argumentos inspirados em prisões, favelas, gangues geram obras que, sem precisarem de ser primas, me caem no goto. Exemplos: “Carandiru” ou “Os Condenados de Shawshank” (que só podem ter inspirado a excelente série “Prison Break”).
Finalmente, temos os filmes que servem para aprender alguma coisa sobre um tema. Bem sei que Hollywood é a pior inimiga dos historiadores, mas saber qualquer coisa sobre Roma, mesmo que afinal o Nero não fosse louco e a Cleópatra fosse feia como a noite escura dos trovões, sempre é melhor do que pensar que é apenas uma estação de metro. O último filme que vi deste género foi “Gandhi”.
Raro mesmo é encontrar um filme que reúna as três condições. É o caso de “Cidade de Deus”. O assunto é o mais pertinente possível num Brasil onde as desigualdades sociais são gritantes e onde nascer numa favela é quase uma condenação à subvivência. A violência é brutal e repugnante, do princípio ao fim. A cena em que uma criança que ainda nem fala como deve ser é obrigada a escolher se quer levar um tiro no pé ou na mão perante o gozo dos mais velhos é arrepiante.
Ao mesmo tempo, a montagem pouco comum, com avanços e recuos quase à laia de capítulos de banda desenhada, leva o filme, que é pontuado por um humor inteligente, para um patamar superior.
Meirelles filma a vida difícil das favelas e mostra como a discriminação e a falta de oportunidades são castradoras dos sonhos dos pobres, nestes guetos onde as boas intenções pouco contam. Ele revolta-nos mostrando um sistema podre que se alimenta e alimenta a maldade intrínseca das pessoas.
“Cidade de Deus” é um óptimo momento de cinema mas é também um enfoque num problema que está longe de se resolver. É isso que evidenciam as últimas cena do filme, marcada por uma ironia triste. Os garotos da “caixa baixa”, um grupo de meninos nascido e criado num ambiente de guerra urbana, perdem o respeito pelo até aí todo-poderoso Zé Pequeno e afogam-no numa chuva de tiros à queima-roupa. Aparecem depois, com as pequenitas mãos esticadas para conseguir agarrar as armas que todos possuem, deambulando pelas ruas da favela e discutindo quais os próximos alvos a “passar” (a matar). A conversa acaba em qualquer coisa parecida com isto:
“- Parece que está chegando um cara novo na Cidade de Deus.
- Quem?
- Não sei?- Então a gente passa ele também.”

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Yes we can


Estes americanos são terríveis. Nos últimos tempos, têm chovido notícias sobre a corrida eleitoral na terra da Sala Oval. Mais recentemente, o grande tema tem sido não tanto a disputa entre direita (facilitemos chamando-lhes Democratas) e ainda mais direita (chamemos-lhe Republicanos) mas a querela entre Barack Obama e Hillary Clinton.
Para mim, o fundamental é que os Republicanos fiquem longe do poder e acredito que é isso que vai acontecer. McCain nem o seu partido convence e, caso a cobertura mediática que chega a Portugal seja representativa da americana, ele tem sido tão ofuscado pelo duelo dos telegénicos Obama e Clinton que calculo que a sua popularidade esteja a milhas da de qualquer um destes dois.
De qualquer forma, confesso que gosto cada vez mais de Obama. Primeiro porque acho Hillary dondoca, conservadora encapotada e com pouco estofo para o cargo. E depois porque Obama me parece uma lufada de ar fresquinho.
Bem sei que fosse eu americano e estaria na coutada eleitoral do senador do Illinois. Mas admito que o "Yes we can" me empolga e nem sequer tem nada a ver com a Scarlett Johansson. Entusiasma-me a ideia de deixar de ver na televisão as tomadas de posição do inenarrável presidente Bush (o que só por si será maravilhoso) para ver as de Barack Obama (o que poderá não ser mau de todo). Se tudo não passa duma operação de markerting, comigo resulta muito bem. Comecei esta campanha sem achar especial piada a ninguém e neste momento já só torço por Barack.
Esperemos pelo desfecho das eleições, conscientes de que até ao lavar dos cestos é vindima. Afinal, num país onde o candidato com mais votos perde as eleições, não é impossível que o próximo presidente acredite que todos os humanos são filhos de Adão e Eva.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carnavalices

Uma das frases que mais tenho ouvido nos últimos dias é "Não ligo muito ao Carnaval". Outra é "Detesto o Carnaval". Afinal quem é que gosta do Entrudo?

O António. Há bocado liguei o MSN e vi, junto ao nickname dele, um entusiasta "É Carnaval!".

Um pormenor: o António nasceu no Rio de Janeiro.
Palavras para quê?

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Declaração ao amor



"O melhor do mundo são as crianças”, escreveu Fernando Pessoa. Discordo. O melhor do mundo é o amor que nós, adultos, temos pelas crianças. Não há sentimento mais fantástico e fascinante.
Não fujo ao normal. Também gosto de crianças, também não consigo dizer o que nos faz ser capazes de ficar tanto tempo a vê-las brincar, comer ou dormir. Mas o que mais me fascina é a própria reacção que temos perante os miúdos. Uma reacção ímpar entre os comportamentos humanos.
Quem pega num bebé, seja da família ou desconhecido, está genuinamente preocupado com ele e não quer outra coisa senão que ele esteja bem, mesmo que isso implique um sacrifício do seu bem-estar. É sincero e sentido o choque que a pessoa sente ao ouvir nas notícias que havia crianças entre as vítimas de um qualquer atentado.
O que faz o homem mais frio desenterrar caretas de meninice para tentar fazer rir um bebé? Certamente o mesmo sentimento que une uma mulher de 90 anos e uma menina de 9 no cuidado e carinho que dedicam a um recém-nascido.
Não quero saber de explicações biológicas. Afastem de mim evolucionismos e sobrevivências da espécie. Prefiro o mistério deste amor que se define a si próprio. Altruísta, desinteresseiro e dedicado como nenhum outro.