quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Olhos de boneca

Quando era pequena, o meu irmão dizia que eu tinha olhos de boneca.

Não por serem olhos de uma rara cor ou formato - os meus olhos castanhos são vulgaríssimos, do mais "made in Portugal" que possa existir - mas por fazerem um som semelhante aos olhos de uma boneca que ainda hoje guardo comigo.

Antigamente, quase todas as vezes que esfregava os olhos - por sono ou choro - os meus olhos (a pálpebra, vá) faziam um som curioso igual ao som emitido pelo abrir e fechar de olhos da tal boneca.

Durante anos não ouvi este som...até hoje. E com este som veio a boneca, os olhos de boneca, o meu irmão, a nossa infância. Tanta coisa.

Não tive música no mp3 falecido mas, por momentos, voltei a ser a menina dos olhos de boneca. E soube tão bem.

Sony II

Pois é, parece que o mp3 não gostou da reforma antecipada.

Hoje reatei a relação e levei-o comigo. Quis o conforto da escolha musical e a previsibilidade da ordem das faixas. Premi o ON e a música começou a soluçar...até calar. Mudei a pilha (prevenida como sou, levo sempre uma nova comigo) mas percebi que o problema não é da carga mas sim do corpo.

Alguém oferece um mp3 no Natal?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Anoristeria



Finalmente percebi. Depois de anos de incompreensão, pasmo e, em certos momentos, até revolta, percebi a histeria feminina da magreza. Folheei por acaso uma revista feminina, chamada Happy Woman ou qualquer coisa nesta linha. Para um homem, é difícil encontrar interesse numa publicação deste tipo. Há um ou outro artigo menos específico, mas as longas dissertações sobre moda e cosméticos ultrapassam a masculina pachorra. Claro que nos podemos sempre entreter a decifrar as preocupações e preferências do sexo oposto. (As dicas sexuais e sentimentais são as mais curiosas.) Tirando isto, o que faz um homem com uma revista feminina? Entretém-se a olhar para as omnipresentes fotografias de mulheres mais ou menos vestidas.
E aqui é que está o meu ponto. Que tipo de mulher aparece neste tipo de publicação? Uma mulher magérrima, sem carne, com a abundante maquilhagem disfarçando o ar doente. Uma mulher-cabide, assexuada, expositor de metro e oitenta. Enfim, uma carga de ossos assustadora.
O problema está nos efeitos a longo prazo. Se a um “primeiro” contacto senti desilusão, para não dizer aversão, face a esta mulher-esqueleto, admito que o contacto permanente com esta imagem possa ir fazendo dela a norma e o desejável. Na cabeça da leitora que vê esta imagem a acompanhar o artigo sobre a mulher independente, feliz e moderna, começa a ganhar força a associação entre as duas coisas. E de nada adianta negarmos os efeitos destas influências, uma vez que os estudos sociológicos, psicológicos e outros “lógicos” os evidenciam. O aumento da anorexia, da bulimia e de variadas ansiedades e frustrações em relação ao corpo também o mostram. Há uma força social superior a cada uma das mulheres à qual é muito difícil fugir.
Por isso, mulheres, deixo-vos um apelo. Se querem viver angustiadas com o corpo, não olhem para as vossas revistas. Sigam as nossas. A mulher não se quer gorda mas quer-se abundante (não escolhi a palavra ao acaso). Viva a mulher carnal, onde se possa agarrar sem medo de partir. A Monica Bellucci faz bem à vista, a Kate Moss ainda nos vaza um olho com um braço ou uma perna.