quinta-feira, 6 de novembro de 2008

We want change

Não se tem falado de quase mais nada sem ser disto, mas acho que o momento não podia passar sem referência no "tudo a posts".
Já deixei a minha opinião num comentário a um post no blog da Ana, que assino por baixo (http://nuncasempretudoounada.blogspot.com/2008/11/yes-we-can-yes-we-won.html), mas deixo aqui um texto que o António Barreto escreveu, e muito bem, no Público:

"O fardo do Presidente Obama

Foi uma extraordinária vitória. Só por isso, o dia será recordado. O novo Presidente dos Estados Unidos foi eleito num clima excepcional. Internamente, mas sobretudo internacionalmente
O mundo inteiro, ou quase, deposita nele enormes esperanças. Ilimitadas, mesmo. É talvez o Presidente americano eleito com maior expectativa favorável no mundo inteiro. Espera-se dele que resolva as questões do Iraque, do Irão, do Afeganistão e do Paquistão. Do terrorismo internacional. Do Próximo Oriente. De grande parte de África. Do comércio internacional. De defesa da Europa e do Atlântico. Das relações difíceis com a Rússia. De proliferação das armas atómicas. De controlo da degradação do ambiente. De regulação das actividades financeiras internacionais. De controlo da especulação capitalista. Do aparente declínio da América. E de problemas internos urgentes: a saúde pública, a pobreza, as relações raciais e a crise da educação.
Certo é que ele não vai resolver nem uma grande parte deste cardápio assustador. O exagero de expectativas traz sempre um excesso de desilusões. O mais provável é que, dentro de meses, estas últimas comecem a exprimir-se. Mas a verdade é que as expectativas positivas podem ter algo de uma profecia que se realiza a si própria. Por isso foi bom que Obama tenha ganho. O clima geral, nos EUA e no mundo, é favorável à sua presidência e ao seu papel. É possível que a sua simples eleição, por causa deste clima, seja um trunfo para ir resolvendo alguns daqueles problemas. A eleição do seu rival e a persistência do fantasma de Bush teriam sido desastrosas. Prosseguir o deslizamento político, moral e financeiro nos abismos para que a Administração Bush empurrou a América teria sido catastrófico.
Ser negro não lhe dá nenhuma vantagem política, intelectual ou moral. Mas o facto de o ser, pelo que significa para a sociedade americana, deu-lhe trunfos valiosos. E esse é um feito, não dele, mas dos Estados Unidos. Que outro país, da Europa, de África ou da Ásia será capaz de eleger presidente um membro de uma minoria étnica? Nesse facto reside talvez esta monumental coligação de simpatizantes através do mundo. Os que são minorias ou como tal são tratados, seja por razões religiosas, étnicas, sexuais ou nacionais, reconhecem-se facilmente nele. Muitos dos amigos da América vêem-se hoje ao lado dos europeus antiamericanos, que são multidão. Esquerda e direita, por esse mundo fora, preferem Obama. Estas coligações são pouco saudáveis. Mas permitem respirar, descomprimir e, espera-se, pensar. Assim como falar com todos. O que talvez seja a fundação de uma nova autoridade. Imprescindível por todas as razões e mais uma: a de poder contrariar o excesso de ilusões."

(Foto Jason Reed/Reuters)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Da política e das agências de comunicação

Naquele que é o primeiro dia do resto da Presidência de Barack Obama, fica a pertinente opinião de Paulo Pinto Mascarenhas sobre o papel das agências de comunicação na esfera política. É de Setembro (já era para ter sido postado) mas não perde, de todo, a actualidade.

Comunico, logo existo

Comunicação é poder. Nas nossas sociedades mediáticas, pode ser um tiro no pé acreditar que se deve dispensar qualquer um dos instrumentos existentes para comunicar uma mensagem, seja esta de que natureza for. Pouco tempo depois de ser eleita presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite (MFL) fez saber que não iria trabalhar com qualquer agência de comunicação. Com esta posição, pretendia estabelecer um padrão de diferença em relação ao seu antecessor, Luís Filipe Menezes. E, claro, a nova líder da oposição queria distanciar-se daquilo a que vulgarmente apelidamos de “políticos de plástico” – em alegada contraposição com o estilo do primeiro-ministro José Sócrates. Ela, definitivamente, não era uma”política de plástico” e, por isso, poderia dispensar o auxílio de outros meios. A sua autenticidade seria suficiente para convencer os portugueses. Esta tomada de posição de MFL constitui um duplo erro. Em primeiro lugar, nenhum político é de plástico por causa das agências de comunicação. A autenticidade é uma qualidade que se tem ou não se tem. É impossível inventá-la. As agências de comunicação não fazem milagres, nem são elas que produzem os “políticos de plástico”. Em segundo lugar, ao afastar o apoio profissional de quem sabe como transmitir a mensagem, MFL reduz drasticamente as possibilidades de sucesso. Nenhuma agência de comunicação é capaz de transformar em autêntico o que é falso, ou vice-versa, como ficou comprovado com o antecessor de MFL na liderança do PSD. Porém, nenhuma mensagem – por mais verdadeira que seja – consegue alcançar a sua meta se não atingir o público-alvo, neste caso, os eleitores portugueses. É caso para dizer, “comunico, logo existo”. As agências são apenas um dos instrumentos ao dispor no processo de transmissão de determinados conteúdos. Devem ser entendidas – e utilizadas – nessa justa medida. Já agora, MFL também deveria meditar nas vantagens da blogosfera. Como se constata facilmente (…) os blogues integram, cada vez mais, o circuito de transmissão de mensagens. Não há como ignorá-los ou procurar reduzir a sua relevância na produção de opinião e informação, apesar da forma algo displicente como – ainda – são tratados por outros meios. Até quando?


Paulo Pinto Mascarenhas
Plano B nas agências de comunicação
Jornal de Negócios
25.09.08

domingo, 2 de novembro de 2008

Orgulho de ser português


Dentro das carruagens do metro, a indicação das estações vinha toda trocada. Na Ameixoeira, dizia “Odivelas”, no Lumiar, “Senhor Roubado” e por aí fora, criando alguma confusão nos passageiros.
No Campo Grande, saiu um velho de uma das primeiras carruagens do comboio e dirigiu-se, mais ou menos furioso, ao condutor.
- Isto diz que está no Lumiar. Assim esta porcaria não serve para nada!
O jovem condutor, pouco habituado a ser incomodado na sua cabina, demorou a abrir a portinhola e não conseguia perceber a que se referia o grunhir do ancião.
Cansado de tanta incompreensão, o astuto idoso finalmente percebeu a raiz de todos os males. Virou as costas ao seu interlocutor, encolheu os ombros e concluiu para quem quis e não quis ouvi-lo:
- Tem brinquinho na orelha, o gajo!