À RC,
Que é tudo menos tacanha, mal vestida ou ignorante.
"Egoísta, vou assistindo com um misto de honra e desconfiança à consagração internacional dos Açores como um dos últimos paraísos do planeta. Os Açores são a minha terra, o meu lugar no mundo e a minha obsessão primeira – mas por outro lado há uma parte de mim que quer conservá-los exactamente como o eram em 1992, o ano em que fiz deles sobretudo um local de regresso.
Para ser honesto, não é sem um certo pânico que assisto ao magnetismo e à curiosidade que exercem sobre aqueles que se cruzam com os seus cheiros grosseiros, os seus sons rompantes, as suas imagens bravias – e depois decidem chamar-lhe simplesmente “belos”.
No outro dia, numa repartição pública de Lisboa, uma daquelas pós-balzaquianas que lêem a “Caras” e pressionam as teclas do computador com a ponta da unha tricolor, como se receosas de que em algum momento a máquina infernal pudesse escoicear de volta, recebeu aborrecida os meus impressos, mas rasgou um sorriso assim que verificou o local de nascimento inscrito no meu BI. Foi com alívio que a ouvi, após um longo solilóquio sobre a beleza das ilhas e a beleza das gentes e a beleza da cultura, argumentar uma novela da TVI como a sua grande e única fonte de informação.
Os meus Açores hão-de ser sempre belos e tacanhos ao mesmo tempo. As minhas gentes hão-de ser sempre belas e mal vestidas em simultâneo. As minhas raparigas hão-de ser sempre belas e ignorantes por junto. E que as pós-balzaquianas dos guichés de Lisboa possam reconhecer-lhes a beleza sob um tão claro manto de tacanhez, insofisticação e ignorância só pode ser sinal de que estamos a perder qualidades. Chamem-me snob, que tanto me faz: um snob é sempre originalmente um pelintra – e é isso mesmo que eu sou, um pelintra da Terra Chã, ilha Terceira, Açores."
Para ser honesto, não é sem um certo pânico que assisto ao magnetismo e à curiosidade que exercem sobre aqueles que se cruzam com os seus cheiros grosseiros, os seus sons rompantes, as suas imagens bravias – e depois decidem chamar-lhe simplesmente “belos”.
No outro dia, numa repartição pública de Lisboa, uma daquelas pós-balzaquianas que lêem a “Caras” e pressionam as teclas do computador com a ponta da unha tricolor, como se receosas de que em algum momento a máquina infernal pudesse escoicear de volta, recebeu aborrecida os meus impressos, mas rasgou um sorriso assim que verificou o local de nascimento inscrito no meu BI. Foi com alívio que a ouvi, após um longo solilóquio sobre a beleza das ilhas e a beleza das gentes e a beleza da cultura, argumentar uma novela da TVI como a sua grande e única fonte de informação.
Os meus Açores hão-de ser sempre belos e tacanhos ao mesmo tempo. As minhas gentes hão-de ser sempre belas e mal vestidas em simultâneo. As minhas raparigas hão-de ser sempre belas e ignorantes por junto. E que as pós-balzaquianas dos guichés de Lisboa possam reconhecer-lhes a beleza sob um tão claro manto de tacanhez, insofisticação e ignorância só pode ser sinal de que estamos a perder qualidades. Chamem-me snob, que tanto me faz: um snob é sempre originalmente um pelintra – e é isso mesmo que eu sou, um pelintra da Terra Chã, ilha Terceira, Açores."
Joel Neto
1 comentário:
É difícil explicar por que é fácil sentir-se cúmplice com o J.Neto. Para um açoriano (tenho uma excepção cá em casa, ms é isso q faz a regra), falar dos "centros invioláveis" da grande Natália deve ser um exercício de respeito,quase um esforço de perfeição. Snobismo, pelintrice - chamem-lhe o q quiserem. Eu prefiro falar em orgulho e num eterno sentimento de pertença que poucos compreenderão.
Obrigada por este momento de autêntica corisquice e pela afirmação pública de q não me visto mal :p
Ah, e se alguém vir a senhora tricolor, avise q a cascata onde a Mariana da novela nada é umas cinco vezes menor do q parece no ecrã. Pelo menos para um cérebro como o dela.
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