quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Na casa de Rabea

(Foto DN-Nuno Fox)


Toca a campainha. Uma esvoaçante e simpática Rabea Essenghini abre a porta para uma sala em tons laranja e odor a suave incenso. Há 22 lugares em mesas com azulejaria e louça magrebina, cadeiras e bancos forrados com a mais pitoresca tapeçaria árabe. O som convida à dança do ventre. Ao fundo, um arco ladeado por bengaleiros separa o bem-estar dos convidados da mestria da cozinha – aberta – desta anfitriã de bom gosto. Lá, vêem-se armários e uma bancada. Do lado de cá, um móvel com estantes e uma moldura. A fotografia faz adivinhar uma presença feminina. Será Rabea?

Poderíamos estar em Casablanca, não ficasse a Flor da Laranja na alfacinha Rua da Rosa, 206. Já tinha lido algumas peças sobre este restaurante marroquino. Um dos três existentes em Lisboa, todos no Bairro Alto. A Rua da Atalaia é sede do Ali-à-Papa e Pedro das Arábias, os pioneiros, por esta ordem, na arte de convidar portugueses a saborear a gastronomia deste país norte-africano.

Rabea, tal como a minha mãe, nasceu em Casablanca. Está em Portugal há 11 anos. É ela que faz as compras, cozinha e serve os sortudos que entram em sua casa. A simpatia do atendimento de Rabea torna inevitável, e imediata, a comparação com o serviço da nossa restauração. Desvantagem para nós, claro está. A ementa deste restaurante é escrita com poucos caracteres. No total, quatro, cinco pratos principais compõem a carta alterada semanalmente. Isto permite que Rabea possa confeccionar, praticamente na hora, os pratos solicitados dispensando outros intervenientes no processo. A espera é significativa mas vale muitíssimo a pena. Pressas para quê? Afinal, estamos na casa de Rabea. Ouve-se música e conversa-se, trincando uma tosta com um queijo e especiarias bastante interessantes.

O Couscous Tradicional vem servido num recipiente de barro afunilado. A sêmola de trigo aconchega um saboroso pedaço de carne, couve, cenoura, courgette e grão. Nem salgado nem insonso. No ponto. É comida para se saborear, lentamente. Nada sobra no fundo e Rabea fica manifestamente satisfeita. A dose dava para duas pessoas. Com pouca fome, é certo. Mas degustei o prato com tal satisfação que nem poderia ter sido de outra forma. A sobremesa escolhida é um Pudim de Laranja e Maracujá, ornamentado com hortelã e calda do fruto da paixão. Desenjoativo, ideal para fechar a porta do estômago, por ora, imensamente satisfeito.

Flor da Laranja é, definitivamente, um local a visitar por todos os amantes da variedade gastronómica. Prometi voltar, desta vez com a minha mãe. Para que prove um Couscous feito por alguém que não ela. Para que seja a convidada e não a anfitriã incessante. Ali mesmo. Em Casablanca. Na casa de Rabea.

2 comentários:

Filipe Gouveia de Freitas disse...

Minha querida,

Imploro-te que pares por aqui os post's sobre bares e restaurantes! Minha cara, não há bolsa que resista!

E não falo apenas dos locais. A elegância com que são descritos é que me fazem ter verdadeira curiosidade de lá ir.

E parece que vai ter mesmo que ser: uma viagem à rua da rosa. Agora falta escolher a companhia!

Beijo

AR disse...

Querido archduke,

obrigada pelo comentário igualmente elegante. Fico contente por saber que estas sugestões são bebidas com tanta sede :)

Quanto ao que me pedes...garanto não fazer nenhuma sugestão nos próximos tempos. É que a minha bolsa também já se queixa...

Beijo e boa visita