quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Tatuagem II

“Mas porque não tentas viver isso que sentes?!”

“Porque tenho medo”.

“Medo do quê?”

“Sei lá! Medo!”

Na idade em que tatuava os livros dos meus pais, pensava que o amor era uma coisa fácil de entender e ainda mais fácil de ser vivida. Acreditava que a fórmula era simples: uma pessoa gostava da outra, essa outra correspondia o sentimento e viviam felizes. Assim, sem tirar nem pôr. As pessoas demonstravam os sentimentos, faziam coisas juntas, diziam palavras bonitas, sorriam como parvas. Isso era o amor. Com a mesma simplicidade, cedo percebi que os meus pais não deviam sentir isso…porque não faziam nada disto, aliás, mal se falavam. E assim, apreendi que quem amava dizia e mostrava que amava. Sem reservas. Quem não amava, não se encontrava. Não se falava. Não estava.

Mas o tempo obrigou-me a ver uma realidade bem mais complexa. Embora nunca tenha compreendido muito bem, a verdade é que as pessoas podem amar e ser amadas, sem se falarem; podem amar e ser amadas sem fazerem coisas juntas; podem amar e ser amadas sem estarem; podem amar e ser amadas sem arriscarem, sem viverem.

E assim, mesmo sabendo disto, hoje não pude deixar de ficar “chocada” ao ter este diálogo com uma amiga que ama, é amada, mas tem pânico de viver o amor com medo que tudo corra mal. A mesma que “tenta” com tantos outros histórias que se desfazem mesmo antes de começarem. E perante o susto do amor recua com medo que desta vez a tatuagem seja definitiva.

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