terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sony

Ultimamente tenho comparado a forma como saboreio a vida ao meu Sony, o meu velho leitor portátil de rádio, do tamanho de uma pilha, oferecido pelo meu irmão no tempo em que esses leitores eram o último grito das TI’s, ou seja, há muito tempo, entenda-se.

Claro que não prescindo do meu mp3 com capacidade para 1 giga. E é claro que gosto de programar com calma, no fim-de-semana, as músicas que vou ouvir nas viagens intermináveis de comboio rumo a Lisboa. Confesso que gosto de conhecer a ordem das músicas, sendo que isso me dá uma sensação de controlo e segurança que está mesmo na palma das minhas mãos, literalmente.

Mas tenho para mim que aquilo de que realmente gosto é da aleatoriedade do meu leitor de rádio. Do que eu gosto mesmo é pôr os phones, ligar o Sony, rezando para que ainda funcione, sintonizar uma qualquer estação (que eu nunca fui boa a decorar os postos) e ser surpreendida por aquela música que já não ouvia há tanto tempo…ou por aquela que nunca ouvi e que, ao ouvir, gosto tanto que logo corro todos os postos na esperança de ouvir de novo e, desta vez, descobrir quem canta.

A verdade é que sempre adorei a rádio: não a parte da animação dos locutores, todos com aquela voz radiofonicamente perfeita e irritante de tão perfeita, mas sim da aleatoriedade intrínseca ao mecanismo da rádio, à capacidade que tem de fugir ao nosso controlo oferecendo músicas entrelaçadas por uma ordem nada ordenada (a menos que seja uma daquelas estações com playlists já muito batidas que não conhecem renovação…mas essas evitam-se com um simples rodar de botão) e de nos fazer sonhar acordados ao som de novas e velhas vozes, ao som do desconhecido.

Gosto, sobretudo, de não ter no meu Sony um visor que indique a duração da música, o nome do álbum, do artista, da faixa, o modo seleccionado (aleatório, contínuo…), o tipo de som (bass, stereo…) e por aí fora.

A vida sabe tão bem assim desta forma…ao sabor das ondas hertzianas, ao sabor das interferências causadas pelos telemóveis próximos que quase agoniam os nossos ouvidos mas que nem chegam a fazê-lo, passando rapidamente a impressão causada e destapando outra música que se insinua ao nosso ouvido num engate descarado.

Nos últimos tempos tenho sido seduzida pelo Sony. E estou a gostar. Guardei o mp3 numa gaveta, dando-lhe assim umas merecidas férias….por tempo indefinido. Quem sabe se não lhe dei uma reforma antecipada?

É tão bom não saber o que vem a seguir…

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