Lembro-me da primeira vez que fui a Óbidos como se fosse hoje. Estava no 10º ano e foi a última visita de estudo desse ano lectivo. Tinha 15 anos, os meus pais acabavam de se divorciar e eu própria acabava de me divorciar da antiga vida familiar que tinha, passando a viver num ambiente muito mais saudável. Para além disso, estava apaixonada.
Óbidos tem a magia de um conto de fadas. Ainda hoje, volvidos sete anos, volvido o divórcio de pais que resultou em duas novas famílias, volvido o fim da antiga paixão, Óbidos continua a ser um lugar especial que insisto em visitar. Visito não para me lembrar dos meus 15 anos, das palavras que deixámos com as pedras. Visito porque é um dos meus locais de eleição. Acho que já o era mesmo antes de conhecer…
Recordo-me do choque do branco das casas nos meus olhos escuros, do odor intenso das rosas e daquelas flores lilases que vimos quando fugimos do resto da turma. Lembro-me da casa guardada pelo leão de pedra, dos puxadores em forma de animais, da ginjinha em cada porta, das tuas conversas nervosas e escorregadias como a calçada depois da chuva que nos limpou a alma naquela corrida desenfreada para o autocarro.
Nessa tarde senti-me uma verdadeira princesa dos contos de fadas. Não tanto pelas coisas parvas que dizias mas porque acreditava piamente que já tinha vivido ali noutra vida, que aquele era o meu mundo. Tu rias, claro. Mas, ainda hoje, sinto a mesma sensação de dejá-vu quando passo a arcada principal. Parece que sempre conheci cada pedra de calçada, cada esconderijo, cada entrada para a muralha do castelo.
“Daqui a uns anos voltamos. Tu ficas na varanda enquanto eu declamo aquela cantiga que canta os desamores de quem não consegue alcançar a sua dama inacessível”. Sabes bem que eu nunca gostei de alturas…
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário